terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Carnaval cheio de arte

O Carnaval é uma data a ser festejada. E para isso é preciso saber pelo menos em que ponto do planeta Terra se quer estar. Conversei com um monte de pessoas para encontrar um bom carnaval. É interessante observar a visão das pessoas porque eu não buscava nada que tivesse a ver com meu país e mesmo assim todos começavam com "não tem nada a ver com o que acontece no Brasil...". A maior parte citou Veneza e o seu lindo desfile de máscaras, ou Colônia e os seus carros alegóricos, fantasias e marchinhas animadas.

Ao mesmo tempo que eu sofria por não estar no Brasil, eu queria experimentar algo totalmente novo. E ao mesmo tempo que eu podia desembarcar em qualquer lugar do velho continente, eu queria conhecer algo típicamente espanhol. Entre dicas dos outros e opiniões pessoais, fiquei com Cádis.

(Foto tirada desse link)

Cádis está no sul da Espanha, banhada pelo oceano Atlântico. Conhecida por ser uma das cidades mais antigas da Europa e palco de inúmeras batalhas importantes, ela também tem uma enorme importância em âmbito nacional por sua posição estratégica e seu comércio, chegando a ser uma das cidades mais ricas da Espanha.

(Um dos símbolos de riqueza da cidade é o Gran Teatro Falla, palco, entre outras coisas, do concurso de agrupações de Carnaval)

Ainda que a sua história seja muito interessante, o que mais me importa nesse momento é o fato de Cádis ter um dos melhores carnavais do país. A comemoração tem o título de Interesse Turístico Internacional e forma parte da lista dos dez Tesouros do Patrimônio Cultural Imaterial da Espanha. Os títulos reforçam a verdadeira festa que as pessoas fazem na rua, todos os anos. Eu ainda não sei como é o clima da cidade, mas esse fim de semana pude ver e entender melhor o que acontece ali.

Ao ritmo do pasodoble

O que difere o carnaval de Cádis de qualquer outro lugar do mundo é o tradicional Concurso de Agrupações. Nele participam diversos grupos que tem como objetivo criar e apresentar suas músicas para os jurados e toda a plateia que os espera no Teatro Falla. Os vencedores ganham prémios gordos da prefeitura e um grande reconhecimento por parte da população.

(O bonito é ver que mesmo com a fama que o carnaval de Cádis vem ganhando as pessoas da própria cidade ainda são as que mais aproveitam. Isso é uma fila de alguns fanáticos que esperaram dois dias - e ainda iam esperar outros dois - para comprar as entradas para as quartas e as semifinais dos concursos)

As agrupações normalmente começam a ensaiar em junho do ano anterior para se apresentar alguns dias antes do Carnaval, quando começam as classificatórias. Depois de 10 dias de classificatórias há um descanso e começam as quartas e as semi-finais. Um dia antes do feriado em si acontece a final.

(O Teatro está separado em cadeiras centrais, laterais e espaço superior (veja no link). Eu fiquei no paraíso, mais conhecido como gallinero - afinal, é ali que a plateia mais grita)

É quase impossível conseguir ingresso para a tão esperada final. Elas são distribuídas por meio de sorteio e para se ter uma noção, esse ano foram mais de 17 mil inscritos para 800 lugares. Para as quartas e semi-finais, bem... vocês viram a fila. A única quase certeza de ver o espetáculo é comprar as entradas para as classificatórias, que são vendidas no próprio teatro ou por internet.

(Los Prodigio, uma das chirigotas desse ano. Cada uma das agrupações canta uma série de músicas e fica no palco cerca de 20 minutos)

Há diferentes tipos de agrupações. Os coros são os maiores. Apresentam 45 pessoas, parecem uma orquestra pela quantidade de instrumentos e vozes. As comparsas são compostas por 15 pessoas e apresenta uma temática séria, de crítica social. Buscam um maior refinamento musical e instrumental, nesse sentido. As chirigotas se apresentam com 12 pessoas no palco e também fazem crítica social, mas de uma forma bastante irônica. A intenção é fazer o público rir. Há também os quartetos, que podem ser formados por quatro ou cinco pessoas. O objetivo é fazer um mini-teatro cômico para divertir a plateia, sem qualquer intenção de crítica. As vozes ocasionalmente são acompanhadas por um violão.

(Coro Los que viven como reyes, no Teatro Falla. No tempo que eles ficam no palco têm de cantar Apresentação, Tango, Cuplé e Popurri)

Há dois ritmos tipicamente carnavalescos para os gaditanos. Um deles é o tango, um palo de flamenco que se originou em Cádis e apresenta um compasso em 4x4. O tango (ou tanguillo) está para o carnaval andaluz assim como as marchinhas estão para o nosso carnaval. O outro é o pasodoble, um ritmo típicamente espanhol surgido no século XVI que também leva um compasso de 4x4 modificado ao 3x4.

(Júlio Pardo, um dos maiores autores do Carnaval de Cádis durante apresentação do coro Los Manitas, em 2011. Foto Diário de Cádiz, tirada desse link)

Um punhado de impressões

Se você está achando que os coros daqui tem alguma coisa a ver com aquele monte de adultos cantando música de natal ou fazendo apresentação beneficiente de final de ano você se engana. As agrupações que participam do concurso são pura arte. A energia de um grupo ao subir no palco é impressionante. Eles sorriem, dançam e até fazem coreografia. Ao invés daquela túnica feia que vai até o pé, levam fantasias super divertidas. A música clássica sai de cena e entram ritmos espanhóis super animadas, a letra religiosa vai embora e entram canções que fazem a plateia chorar de rir.

(O Gran Teatro Falla)

Esses grupos também saem às ruas nos dias do carnaval. E há também grupos que não gostam de competir e não estão no teatro, mas criam letras, música e inventam fantasias só para para animar os foliões. Com suas letras divertidas e seu compasso marcado pela melodia dos violões, essa arte made in andaluzia faz do carnaval de Cádis um dos mais autênticos de todo o mundo.

(As agrupações que animam o carnaval na rua. Foto tirada desse link)
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Um comentário:

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