sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Calle Feria - Sevilha

—  Se fosse para escolher uma rua em Sevilha, qual seria?
—  A Calle Feria - respondi, sem pensar muito.

Essa é uma daquelas escolhas que fazemos sem muita razão. Isso porque a Calle Feria não é a rua mais bonita da cidade. Não tem ponto turísticos importantes, não tem os melhores bares, não tem a melhor balada. Mas ela tem um clima diferente. O que eu sinto quando ando por lá é uma mistura de curiosidade com tranquilidade. A curiosidade vem da vontade de entrar em cada um dos seus restaurantes, lojas e bares super originais. A tranquilidade é algo um pouco inexplicável... É como saber da sorte em estar lá e aproveitar conscientemente o meu tempo livre. A rua faz com que eu me sinta em casa.

(Mercado de rua todas as quintas-feiras)

A Calle Feria guarda alguns segredos que turistas com pressa jamais vão descobrir - e outros que alguns moradores ainda não sabem. Não me atrevo a dizer que conheço a rua nos seus mínimos detalhes, mas depois de alguns dias por ali posso dar algumas dicas preciosas.

(Do lado de fora do mercado os moradores passam. A Calle Feria e sua vida normal seguem seu curso)

A primeira é dar uma voltinha pelo Mercado de la Calle Feria. O local está ao lado da igreja de Omniun Sanctorum, um dos mais antigos da cidade e que melhor conserva a arquitetura medieval (e já que se está ao lado, vale dar uma entradinha para observar como a igreja está ornamentada). O edifício no qual o mercado foi construído também leva anos e anos. Ele data de 1719 e foi reformado algumas vezes.

(Produtos comuns colorem as lojas)

O charme do mercado da Calle Feria está no fato de ele ser feito pelos moradores, para os moradores. Tudo ali é bastante simples e reflete bem o dia a dia da vizinhança. Frutas, verduras e legumes são os itens que encontramos em maior quantidade. Há outras que vendem de carnes, peixes e pães. Algumas são particularmente especiais, como a vendinha de quitutes com biscoitos e tortas que são um abuso e a cheirosa loja de essências.

(Itens de luxo)

A outra preciosidade da Calle Feria é o La Cantina. O local fica escondido entre a igreja e o mercado. Se você vir um beco bem pequeno entre as duas construções pode entrar sem medo. Alguns metros depois o que aparece é um pátio aberto cheio de mesas.

(Aproveitando a hora do almoço para tomar uma com os amigos)

E onde tem mesa... tem cerveja. E uma porção de tapas de dar água na boca. O La Cantina não têm cardápio porque a cada dia se preparam pratos diferentes. A ideia é chegar lá e perguntar o que sai. Sardinha frita, camarão empanado, paella e croquetes de presunto são algumas opções. As mulheres que trabalham lá anotam o seu pedido na parede, em um azulejo, e na hora de pagar a conta fazem tudo ali mesmo.

O La Cantina funciona das 10h as 17h e na hora do almoço ele está sempre cheio de gente. A maior parte vai ali para comer, mas sempre tem que aparece só para tomar uma cerveja. O melhor é o ambiente descontraído que faz você se sentir em horário de happy hour ainda no meio da tarde.

(Tortilla de camarones feita na hora...!)

O dia que o bar está mais cheio é as quintas-feiras. Na verdade, tudo na Calle Feria se enche nas quintas-ferias devido ao seu tradicional mercado de rua, o mais antigo da cidade. Aí você me pergunta: "antigo como 70 ou 80 anos, certo?" Pois imagine você que o rei Fernando III de Castilla concedeu o direito de fazer esse mercado ainda em 1254.

(Início da feira. Trânsito fechado e passagem livre para pedestres)

A feira moldou um pouco a história da própria rua que, tradicionalmente, sempre foi um local conhecido pelo grande número de artesãos, carpinteiros, pintores e todo tipo de artistas. O mercadillo de los jueves foi evoluindo com o passar dos anos. Sem entrar no mérito do "antes era melhor", a feira de hoje vende de tudo um pouco. De tudo um pouco MESMO. Livros, discos de vinil, cabelos de boneca, obras de arte, cordas para violão e toda sorte de chaveiros, isqueiros e penduricalhos podem ser encontradas pelo trajeto.

(De chaves de fenda a telefones antigos. Para não dizer que estou mentindo...)

Entre as minhas preferidas está uma tenda de roupas com peças de 1 a 5 euros, incluindo blusas em jeans e jaquetas de veludo. Também vale a pena ficar de olho nos livros (alguns a preços bem modestos) e nas bijuterias.

(Os cachecóis estavam a módicos 3 euros e o cavaquinho ali ao lado custava só 35)

(De todas as cores, para todos os gostos)

(Em algumas tendas dá vontade de comprar absolutamente tudo. Em outras...)

Quando o assunto é noite a Calle Feria também oferece boas atrações. Um dos locais mais inusitados dali é o Doctor Bar. Na porta, os clientes são recebidos por uma caveira que leva uma placa de boas vindas no pescoço. Do lado de dentro, pipetas, termômetros e uma série de elementos de laboratório fazem parte da decoração. Outro que eu adoro é a Bicicleteria, um espaço que funciona como bar e casa de shows com uma decoração super alternativa. Todos os dias há alguma coisa na programação. Gosto de ir às terças-feiras, quando há concertos variados a partir das 22h.

(A cada terça, uma surpresa. No palco da Bicicleteria pode surgir jazz, blues e até música brasileira)

Um comentário:

  1. Olá, Ju.
    Parabéns pelo blog, está ajudando muito em organizar nossa viagem à Espanha em março próximo.
    Gostaria de saber se a Feria funciona todos os dias ou somente em alguns.
    Grato, João.

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