sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Achados da capital federal

A nossa compreensão sobre um lugar costuma ser proporcional ao número de experiências que vivemos ali. Por isso tento ficar o maior número de dias que posso em um lugar quando estou viajando. Não me importo de ficar "tempo demais", ir em locais inusitados, repetir roteiros, passar o dia "a toa" porque é esse tipo de passeio que faz com que a gente aprofunde nossa percepção sobre uma cidade, seu povo e seus costumes. Foi o que aconteceu em Brasília, já que fiquei mais tempo que o habitual e fui a lugares não muito comuns, mas que valem o passeio.

Parque Nacional de Brasília

Existem dois lugares em Brasília dos quais ninguém pode reclamar sobre a falta de árvores. Um deles é o Parque Sarah Kubitschek, o maior parque urbano do mundo (sim, do mundo, maior até que o Central Park de Nova York). O outro é o Parque Nacional de Brasília, onde passei uma bela manhã no meu último dia de viagem.

 (Banco com sombra, chamando para um pic nic depois de uma longa caminhada)

O parque, mais conhecido como Água Mineral, tem 300 mil hectares e é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Dentro dele há trilhas de diferentes níveis de dificuldade, espaço para recreação e muita área verde.

 (Hora do lanche: Milho cozido e caldo de cana)

Fiz uma caminhada de 40 minutos pela trilha e me arrependi de não ter levado biquíni ou algo do tipo. Afinal, as piscinas naturais são a grande atração do parque. Elas foram formadas a anos atrás, a partir da extração de areia da região. A retirada desse material fez surgir poços d’água às margens do Córrego Acampamento. Depois que o parque foi criado (em 1961) os poços foram reformados e ganharam revestimento de pedra.

A maior tem 85 metros de extensão e é mais usada por quem pratica natação e outros tipos de atividades aquáticas. A menor também atrai os esportistas, mas faz a fama entre as pessoas que frequentam o parque a lazer. Crianças, adultos e idosos são presença garantida. Para quem tem nojo de piscinas públicas, elas são de água corrente e limpas duas vezes por semana.

(A piscina natural do Parque. A água só deixa de ser gelada depois quando o sol fica forte)

Sudoeste

A região Sudoeste não seria nada demais se estivesse em uma cidade qualquer. Ela tem prédios residenciais, ciclovias, calçadas para pedestres e um grande comércio local. Mas em Brasília isso não é tão comum. Afinal, o plano piloto, feito de forma totalmente organizada, não deixou muito espaço para comércio espontâneo, ciclovias e, em alguns locais, nem para calçadas.

O Ricardo disse que ali não tinha nada a 15 anos atrás. Ele andava de bicicleta com os amigos na região, chamada de "sujoeste" por causa do barro que acumulava depois das chuvas. Fiz uma cara de espanto: foi quase impossível acreditar que há pouco tempo aquilo não era nada. Hoje, tem muito movimento, muita gente na rua e muito, mas muito comércio. Isso porque grande parte dos edifícios tem apartamentos na parte de cima e lojas e bares na parte de baixo. Pizzaria, tapiocaria, casa de sushi, restaurante fino... tem de tudo. A noite o difícil é escolher onde ficar. O Sudoeste parece ter mais vida e, por isso, parece mais "habitável" que o resto da cidade.

Conic

Uma das primeiras vezes que vi Brasília além da sua história arquitetônica foi em um filme do Matheus Nachtergaele, durante a 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Mostrava os cantos escondidos de Brasília e muitas partes do longa se passavam dentro de um edifício enorme, uma mistura de prédio residencial com comercial, cheio de corredores escuros e galerias que guardavam todo tipo de comércio, de puteiro a oftalmologista.


(Os corredores do Conic guardam lojas de tatuagem, camiseterias, clínicas odontológicas e até barbearias a moda antiga)

Esse edifício era o Conic, um prédio construído na década de 1960 e oficialmente chamado Setor de Diversões Sul - vocês não se esqueceram que quase tudo no Plano Piloto é simétrico, certo? Pois bem, o Setor de Diversões Norte, do outro lado da avenida, é o Shopping Conjunto Nacional.

(Grafiti em uma das paredes no meio do edifício)

Por influência do filme ou dos meus gostos turisticamente duvidosos, queria dar uma volta por lá de qualquer jeito. Sabia que não ia achar bonito. Talvez nem achasse graça, já que o Conic não é um lugar para se visitar, mas para frequentar. Ainda assim eu gostei de andar por ali, de descobrir lojas que eram vedadeiros achados, de ver o movimento e até de observar o mal humor dos velinhos. Para quem gosta de ver o lado B, o Conic é um prato cheio!

Encontrei um texto no site Overmundo intitulado "O Conic tem de tudo" que resume bem o espírito: Não existem palavras demais quando se fala no Conic. Nem palavras certas ou erradas. No Conic tem tudo, e tudo pode se dizer do lugar. Mas sobretudo, o Conic é um lugar feito para gente se encontrar e fazer coisas. É lugar de apropriação. É território livre e mercado comum das raças e tribos da Capital (texto completo nesse link).

(Sebo no meio do prédio: para passar horas a perder de vista)

Pontão do Lago Sul

O mais perto do mar que os brasilienses podem ir sem ter de sair da cidade é o lago Paranoá. Claro que ainda faltam a água salgada, as ondas, a areia cheia de guarda-sóis coloridos... só não falta o clima de orla de praia. Isso eles têm no Pontão do Lago Sul. O local é cheio de plantas como palmeiras e bromélias, tem uma calçada a beira do lago para caminhar, deques ao longo do caminho, lanchas que navegam pelo lago (algumas tocando música a uma altura acima do tolerável), postes de luz amarela bem baixinhos e quiosques, bares e restaurantes. Foi como estar na praia.

(Um passeio pela "orla" enquanto o sol cai)

Fui para lá exatamente para ver o pôr do sol. Não acho que estava no lugar mais bonito para esse momento, mas com certeza estava no melhor. Deitei em um dos deques e fiquei horas comendo pipoca e batendo papo furado. Durante todos os meus dias de passeio pro Brasília, não me senti tao confortável quanto lá.

(Restaurante a beira da "praia")

2 comentários:

  1. Adorei o post, tá show de bola... Gosto muito de Brasilia, já estive algumas vezes por lá, mas não tive oportunidade de caminhar no Parque, ver os detalhes, só de carro mesmo em seu entorno. Já deixo anotadinho para uma próxima visita! Abraços,
    Paula
    www.mochilinhagaucha.blogspot.com.br
    ...

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    1. Obrigada Paula! Pois é, o nosso entendimento de uma cidade tem muito a ver com o tempo que a gente tem para "estar" nela! Da próxima, dê uma passadinha por lá!
      Beijos!

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