segunda-feira, 23 de abril de 2012

São Francisco, rio-mar

Um rio é todo um mundo. Mundo incompreensível para quem não vive a sua realidade. Realidade de cheia, realidade de seca. Realidade de água. Eu não entendia a realidade do São Francisco, mas ainda assim estava ansiosa por conhecê-la ao longo do projeto Cinema no Rio. Afinal, um curso d’água chamado de "Integração Nacional" em um país tão enorme quanto o Brasil seria, no mínimo, importante. E grande. E forte. Um mundo, como todo rio deve ser.

(Essa foto dá uma ideia geral da largura do Velho Chico, ainda em Pirapora)

Esse lindo Velho Chico é mesmo isso. Em Pirapora ele não é tão grande, mas se ali ele já está daquele tamanho, com certeza vai se tornar maior. E é incrível imaginar que ele ainda vai atravessar Minas Gerais, ir para a Bahia, passar por Pernambuco, Alagoas e terminar no Sergipe. Por isso digo que quando o vi pela primeira vez eu não percebi, mas entendi, principalmente, a sua grandeza.

E entendo ainda mais ao longo dos dias. Escolhi, não por menos, a beliche de cima, a única do minha cabine com vista para esse rio-mar. Acordo todos os dias com a luz do sol refletida no rio diretamente nos meus olhos, através da janela ao lado do meu travesseiro.

(De manhã, depois de acordar, essa é mais ou menos a vista que tenho do barco)

Aqui, a relação que tenho com o São Francisco pode ser tudo, menos superficial. Viajo no barco, como no barco, durmo no barco. Convivo com uma tripulação composta por pessoas que já viajaram por ele outras vezes ou que vivem do rio, da pesca ou da navegação.

A primeira vez que içamos âncora foi no trecho Pirapora-Barra do Guaicuí, dois dias depois da nossa chegada. De carro, o percurso pode ser feito em 30 minutos, mas de barco são pelo menos duas horas.
 - Porque heim, capitão?
 - Porque o rio é sinuoso, aí a gente tem que ir assim ó – e fez um movimento com as mãos em zig zag.

(O Benjamin Guimarães, único vapor desse tipo no mundo, já faz parte da paisagem de Pirapora)

Assim seguimos por todas as cidades. Duas horas de viagem, três, quatro. Longe de achar a demora um problema, acho genial. Tão raro, mas tão bonito, quando é o homem que obedece a natureza, e não o contrário. É por isso que, as vezes, prefiro não ligar meu mp3 ou escutar música. O barulho do motor é a trilha desse e de mais tantos dias no barco, dias que eu passo escrevendo, fotografando, conversando, observando a correnteza.

No meio do caminho, a gente vê canoas de pescadores e barcos de gente que realmente usa o rio para se locomover. Quando passa um desses, a tripulação acha normal. Alguns de nós, ao contrário, corre para tirar uma foto. Parecemos estrangeiros dentro do próprio país. Estamos mesmo em um novo mundo.

(O pôr do sol no Velho Chico)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cenário de filme

Há algum tempo eu comecei a trabalhar para o projeto Cinema no Rio, projeto que leva cinema para as populações ribeirinhas do rio São Francisco. Conheço o projeto há tempos e sempre achei a proposta incrível. Enfim, chegou o dia de partir: embarco hoje para Pirapora e sigo por outras 12 cidades do norte de Minas até o dia de maio. Talvez eu suma, talvez não. Talvez eu tire fotos incríveis, talvez não. Talvez eu seja absorvida pela beleza do velho chico, talvez eu traga boas histórias para contar. Histórias. É isso que esse projeto simplesmente incrível tem para contar. E que eu, vou tentar trazer para cá também!


Projeto Cinema no Rio São Francisco embarca em uma edição difundindo a sétima arte pelas lindas paisagens da região do Velho Chico

Um rio que nasce no meio da serra e desce lento pelos mais incríveis cenários brasileiros. Veredas, florestas nativas e vilarejos históricos. Essas e outras paisagens encontradas no vale do rio São Francisco são o pano fundo do projeto Cinema no Rio, que desde 2004 percorre o rio da integração nacional com o objetivo de democratizar o acesso à cultura exibindo filmes para as comunidades ribeirinhas.

(Foto: André Fossati)

Esse ano o projeto completa sete anos de difusão da sétima arte. Para comemorar a data, a equipe parte para mais uma expedição no dia 20 de abril. Dessa vez, o Cinema no Rio vai percorrer 13 cidades no estado de Minas Gerais.

O projeto comemora também os 510 anos do Velho Chico, esse caudaloso rio habitado por indígenas e anteriormente conhecido como opará, algo como “rio-mar”. Ele foi descoberto por Américo Vespúcio no dia 4 de outubro de 1501, dia de São Francisco. Desde então, fez parte de importantes momentos históricos do país.

Assim, o Cinema no Rio realiza uma série de atividades com o objetivo de promover o intercâmbio com as comunidades que vivem às margens do rio São Francisco. “Levamos o cinema a locais desprovidos de espaços de exibição, oferecendo cultura, arte e entretenimento à população com acesso restrito a esses bens. Nossa idéia é valorizar e resgatar a cultura local“, afirma o diretor da CineAr Produções e responsável pela execução do projeto, Inácio Neves.

(Sessão de filmes ao ar livre. Foto: André Fossati)

A principal atividade é a exibição gratuita de filmes nacionais. Esse ano, o projeto conta com oito curtas e seis longas-metragens, entre eles os recentes O Palhaço, com direção de Selton Mello, e Hotxuá, com direção de Letícia Sabatella e Gringo Cardia. O premiado Girimunho, com direção de Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr, também faz parte da lista. Depois de ser exibido em festivais nacionais e internacionais, o filme finalmente será mostrado à cidade de São Romão, aonde foi gravado. “O Girimunho nasceu no projeto Cinema no Rio e agora vai ser visto pelos habitantes que me ajudaram a produzi-lo. É o local onde eu mais tenho vontade de passar o filme”, conta Helvécio Marins Jr, diretor do longa.

Outra atividade importante é a produção e veiculação de um documentário local sobre a cidade e seus habitantes. “Nos outros anos a população era mostrada nos filmes. Dessa vez ela vai fazer parte da própria produção desse curta-metragem”, adianta Inácio.

(Distribuição de pipoca durante as sessões. Foto: André Fossati)

As comunidades ainda ganham conhecimento com a oficina de fotografia, direcionada a crianças de 12 a 16 anos. Os oficineiros vão conversar sobre o assunto, ensinar as regras básicas e deixar eles saírem pela cidade fotografando tudo que for interessante. “É o olhar deles sobre o espaço em que vivem”, explica Inácio. Cada participante também será fotografado. O material será então editado e exibido na telona antes dos filmes.

Desde que foi criado, o projeto passou por diversas cidades de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Com as sessões gratuitas dos filmes o Cinema no Rio já reuniu, ao longo de seis edições, público superior a 200 mil participantes.

(A pesca no Velho Chico. Foto: André Fossati)

E apesar de cada película contar com um cenário particular, as belas paisagens do rio São Francisco são os verdadeiros panos de fundo do projeto. Os barqueiros que saem pela manhã em busca de peixes, as mulheres que lavam suas roupas com as águas verdes do Velho Chico, o vapor Benjamin Guimarães que dá o ar da graça em Pirapora.

O Cinema no Rio já saiu no blog de outros viajantes, confere lá:
 - Jeguiando
 - Sem Destino
 - Nerds Viajantes
 - Extremos

sábado, 14 de abril de 2012

A boemia invade a cidade

Um dia me perguntaram o que eu mais gostava em Belo Horizonte. A primeira coisa que me veio a cabeça foi "a noite". Lembrei das images dos quarteirões fechados da Praça da Savassi, cheios de mesas, das ruas do Santa Teresa, sempre boêmias, e dos pequenos bares em esquinas escondidas que, contra tudo e todos (inclusive contra as leis da publicidade que pregam a exposição da marca para alcançar sucesso), se enchem de gente. Até hoje eu me pergunto se é isso mesmo o que eu mais gosto, porque eu realmente gosto de muitas coisas na minha cidade. Mas uma certeza que tenho é que o clima botequeiro é parte da alma de beagá.

(Butecos enchem as calçadas do bairro Lourdes. Foto tirada desse link)

Essa pergunta me veio a cabeça novamente no início dessa semana, quando vi alguns bares decorando paredes e tetos com bandeirolas do Comida di Buteco, o maior concurso gastronômico do Brasil. Para quem não sabe, o Comida di Buteco foi criado em Belo Horizonte, em 2000, como uma forma de incentivar a culinária local. Foi um sucesso quase instantâneo. O concurso foi movimentando o setor gastronômico e ganhando cada vez mais adeptos. Hoje ele se expandiu tanto que já está em 16 cidades.

É um evento genial em todos os sentidos, mas há um motivo que torna esse fato incontestável: ele valoriza o que é nosso. Historicamente, o Brasil sempre foi um país influenciado por outras culturas. Começou com a chegada dos portugueses e continuou com a vinda de africanos em navios negreiros, com a disseminação da "alta cultura" europeia e, mais tarde, com o american way of life. Por sermos um país tão novo e tão diverso, demoramos a enxergar o que era "nosso" e o que era "do outro". Essa distinção ficou mais clara na época da independência do país, devido a necessidade de criação de uma identidade nacional, e se aprofundou no século XX, a partir de uma série de movimentos de valorização da cultura tipicamente brasileira. Foi aí que o Brasil se tornou referência (por vezes mundial) em alguns quesitos, como música e dança. Mas no que diz respeito à gastronomia, ficamos para trás.

(Acima, o Barracão Butiquim, um dos melhores bares de Belo Horizonte, é nada mais nada menos que o quintal de uma casa. Um bar tipicamente brasileiro, com comida tipicamente brasileira. Foto tirada desse link)

A verdade é que não somos um país de pratos chiques, mas de pratos criativos e fáceis de comer. Tampouco um país de restaurantes finos, mas de self-service no almoço e petisco no jantar. E isso parecia péssimo frente a um mundo em que só os restaurantes de lux ganhavam prêmios e estrelas. É aí que entra o Comida di Buteco. Ao perceber que apesar de toda riqueza gastronômica, os bares não tinham o prestígio que mereciam, criou-se um concurso para exaltar a criatividade desses estabelecimentos.

(O prato do Adega e Churrasco: Carne ao Pupurri de Minas. Foto tirada desse link)

Como o próprio idealizar do concurso diz: "Há séculos, o boteco faz parte da paisagem de nossas cidades. Mas por ser um espaço de comércio popular, não despertava a atenção necessária e, portanto, vivia à margem da sociedade. Quando o Comida di Buteco começou em Belo Horizonte, foi como se colocássemos um holofote sobre toda a riqueza da culinária de raiz da nossa região e destes estabelecimentos que tem, em sua maioria, uma história familiar por trás. Isso mudou a forma como as pessoas viam o boteco, e, junto a esse carinho para o qual a população se despertou, os estabelecimentos também tiveram a oportunidade de se profissionalizar e de se tornar sustentável, sem deixar de lado sua essência" (Eduardo Maya, no site oficial do concurso)

(Os bares Barção Moreira com o prato R&J e seus convidados e 222 com o prato Foi no jiló, agora é na bruschetta!. Fotos tiradas desse link)

Como disse, é uma ideia genial. O Comida di Buteco convida bares tradicionais, com comida de qualidade, e traz visibilidade e oportunidade de crescimento. Em troca, o bar tem que usar sua criatividade e fazer um prato delicioso para o público, que normalmente continua no cardápio mesmo depois do fim da competição. O concurso movimenta milhões de reais por ano, cria centenas de receitas novas e leva milhões de pessoas aos butecos das cidades participantes. E o mais importante: incentiva o turismo (internacional, inclusive), a gastronomia local e faz o brasileiro se orgulhar da sua cultura. Por mais besta que possa parecer, chego a ter orgulho de ter nascido na cidade que inventou o concurso.

(O Balaio de Gato ainda não está no evento, mas é uma das minhas apostas para as próximas edições. Foto tirada desse link)

O Comida di Buteco 2012 começou ontem. Em Belo Horizonte são 41 bares participantes espalhados por todas as regionais e o ingrediente especial desse ano é o queijo minas. Se beagá já é a capital do boteco em dias normais, ela vira de cabeça para baixo quando o concurso começa. Por volta das 18h os bares já se organizam para receber as pessoas. Milhares delas, todos os dias. Há inconvenientes como filas e bares lotados, mas vale a pena esperar. A boemia invade (mais) cidade.

Para conhecer todos os bares participantes da edição 2012 é só clicar aqui!

terça-feira, 10 de abril de 2012

O deserto, de fato - parte 2


Tours regulares. Esse é pacote mais recorrente na eleição dos turistas. Comento aqui basicamente o tipo de experiência que cada um deles oferece, e dicas para aproveitá-los melhor. Uma certeza é a de que todos os passeios valem a pena. Depois de algum tempo trabalhando na agência pude fazer a maioria, mais de uma vez e, sinceramente, nunca consegui escolher o que mais gostava.

(San Pedro oferece passeios tão diferentes quanto suas paisagens...! Foto tirada desse link)


Geysers del Tátio
 - Horário: de 4h30 às 12h30
 - Altitude máxima: 4.300m
 - Taxa de 5 mil pesos chilenos para entrada na reserva, além do preço na agência. Possui meia-entrada para estudantes.

O passeio mais extremo pelas transições bruscas de altitude e temperatura. Um dos mais impressionantes também. Nesse tour se conhece o terceiro maior campo geotérmico do mundo. É necessário ir bem cedo para ver as fumarolas dos geysers em seu momento de maior atividade. A impressão que se tem ao ver os geysers antes do nascer do sol é como entrar em um filme de suspense dos anos 60, ou na caverna do Batman. Para completar, ver o sol nascer e mudar completamente a paisagem do local é muito bonito.

(Piscina térmica aquecida pelo calor da terra. O cheiro de enxofre incomoda mas dizem que faz bem para pele)

Geralmente as agências oferecem um café da manhã bem básico e depois visita-se a piscina termal do campo geortérmico, o Rio Putana - que tem um vulcão ativo com o mesmo nome em seu horizonte - e o povoado de Machuca (um dos mais bonitos de se ver). Se tentarem vender o passeio após uma noite de chuva, não acredite. Você acordará às 4 da manhã e talvez alguém venha te avisar que infelizmente o tour não vai sair.

Importante levar: MUITA roupa de frio – no início do passeio as temperaturas geralmente estão abaixo de zero. Muita água, traje de banho e roupas leves para continuar o passeio depois que o sol nasce. É muito comum sentir-se mal por conta da altitude, inclusive há casos de desmaios. Folhas de coca, alimentação leve e um bom descanso no dia anterior ao passeio são muito bem vindos.

Valle de la Luna
 - Horário : de 16h às 20h30
 - Altitude máxima: 2.500m
 - Taxa de 2 mil pesos chilenos para entrada na reserva, além do preço da agência.

(Só observar para entender porque o local se chama Valle de la Luna. Foto tirada desse link)

Passeio de muita caminhada e observação geológica. Dos tours regulares, é o que mais proporciona a sensação de se estar em um deserto. São 50 km percorridos entre ida e volta, geralmente contempla o passeio pelo próprio Valle de la Luna (que tem esse nome por se parecer mesmo com uma superfície lunar), Valle de la Muerte (onde ninguém nunca morreu de verdade), caminhadas por cavernas de sal e visita à estruturas rochosas moldadas pelo vento. O final do passeio costuma presentear os turistas com um pôr do sol emocionante, na chamada “Quebrada de Cari”.

Importante levar: muita água, sapatos confortáveis para caminhada, um lanchinho para o final do dia e abrigo para vento.

Laguna Cejar
 - Horário: de 16h às 12h
 - Altitude máxima: 2.300m
 - Taxa de 2 mil pesos chilenos para entrada na reserva, além do preço da agência.

(Laguna Tebinquinche e sua crosta de sal)

Feito para nadar! Esse tour, na verdade, visita três lagoas. A primeira delas é a Cejar, lagoa que tem tanta concentração de sal que se flutua sim, ou sim (não é necessário saber nadar para entrar nela). Depois segue-se para os Ojos del Salar, lagoas quase gêmeas, que têm esse nome por se parecerem com dois olhos se vistas de cima. Essas lagoas têm uma concentração menor de sal  e permitem saltos e mergulhos (apesar de não terem profundidade conhecida). A terceira e última é a Laguna Tebinquinche, que não tem quase nenhuma profundidade e lembra a forma de um salar: a superfície é coberta de sal, onde se pode caminhar e tirar (típicas e) excelente fotos.

Importante levar: muita água, inclusive para tirar um pouco do sal do corpo. Traje de banho, toalha e chinelos - o sal geralmente destrói bons calçados mesmo com pouco tempo de exposição.

Lagunas Altiplânicas
 - Horário: de 7h às 14h
 - Altitude máxima: 4.200m
 - Taxa total de 5 mil pesos chilenos para entrada em duas reservas, além do preço da agência.


(Em uma das Lagunas Altiplânicas. No dia choveu granizo e o que está atrás de mim é um vulcão nevado, e não nuvens)

Tour de observação e caminhada. Não parece o melhor passeio à primeira vista, mas a mistura de deserto com o altiplano cria uma das paisagens mais impressionantes que eu já vi. Além do deserto, há vegetação, animais e lagoas imensas com vulcões ao fundo.Visita-se basicamente a reserva da laguna Chaxa (onde é possível ver muitos flamingos), onde a agência geralmente oferece café da manhã. Depois passa-se pelo povoado de Socaire e finalmente chega-se às Lagunas Miscantis y Miniques, com seus respectivos vulcões.


Importante levar: muita água, roupas leves e roupas de frio. Se escolher um dos tours que não oferecem almoço, vale a pena levar um lanche para o final do passeio.

Nem tão regulares...:


Termas de Puritama: águas termais que podem ser visitadas na parte da manhã ou da tarde. Basicamente para relaxar. Um hotel tem a posse das termas e a entrada na parte da tarde é bem mais barata que na parte da manhã.

(Cavalgada pelo Valle de la Muerte. Foto tirada desse link)

Salar de Tara: tour de um dia completo, incluindo café da manhã e almoço. Era o mais caro da agência que trabalhava. Infelizmente, não tive a oportunidade de fazer esse passeio, mas a recomendação geral é de que as estruturas gigantes de pedra moldadas pela erosão do vento são espetaculares e imperdíveis.

Cavalgadas: poucas pessoas procuram as cavalgadas, apesar de esses passeios terem um custo benefício impressionantes. Normalmente, são guiadas por pessoas que nasceram no povoado e revelam lugares menos visitados e segredos que só nativos sabem contar.

Vulcones: a escalada de vulcões é vendida por agências especializadas em tours de aventura e não podem ser feitas por qualquer pessoa, em qualquer ocasião. Mesmo para os mais experientes é recomendado fazer um trekking pela região antes de comprar a subida a um dos vulcões. Verifique muito bem a confiabilidade do guia e da agência antes de fechar negócio.

(Duna no Valle de la Muerte onde se pratica Sandboard)

Sandboard: o surf das dunas do Valle de la Muerte é uma ótima pedida para os que gostam de aventura. Não é preciso experiência prévia, mas é pré-requisito ter coragem e disposição para cair. É possível comprar o tour que inclui tábua, instrutor e transporte ou apenas alugar a tábua e uma bicicleta para ir sozinho ao local das dunas. O melhor serviço de sandboarding é vendido bem ao lado da praça principal do povoado.

Para ver todas as histórias da viajante Tamira, clique nesse, nesse e nesse link!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O deserto, de fato - parte 1


Os diversos passeios nos arredores do povoado é o que leva tantos turistas à San Pedro de Atacama. As possibilidades são efetivamente impressionantes: os tours contemplam vistas que correspondem às imagens típicas de um deserto, mas oferecem também lagoas, salares, geysers e, quando chove, até neve.

(Um dos geysers do campo geotérmico de San Pedro)

O ideal é ficar no mínimo 3 dias na cidade para garantir que haverá tempo para aclimatar-se, conhecer mais de uma agência e escolher o passeio que mais gostar É impossível conciliar noitadas com uma maratona de passeios, já que muitos deles são feitos pela manhã e a altitude faz tudo ficar bem mais difícil.  Se não quiser escolher entre a balada e a vida de aventureiro, tem que passar mais tempo na cidade.

Pero hospedarse dónde?

A qualidade e o preço que você vai encontrar nos hotéis de San Pedro é bem variável. Geralmente os ônibus que chegam ao terminal do povoado são cercados pelos chamados “hunters” – pessoas pagas para levarem os turistas à determinados hotéis ou hostel. Se o hostel está vazio é possível negociar um bom preço. Caso contrário, geralmente se paga R$32 por noite sem café da manhã. A grande questão desse jogo é que comumente as pessoas se hospedam no primeiro lugar a que são levadas, até por dificuldades de mobilidade. Importante observar que as hospedagens mais próximas ao centro do povoado são mais caras e atendimento em inglês é menos comum do que se pode imaginar.

(Caracoles, a principal rua da cidade é a que mais tem agências de turismo)

Além dos hostales, como chamam no Chile, San Pedro oferece também os outros extremos. existem dois campings e alguns hotéis de alto luxo no povoado. Os campings não oferecem grande estrutura, mas podem sair à R$16 por dia. Sobre a estrutura dos grandes hotéis, eu prefiro ilustrar com o link do Kunza.

Enfim, os tours

O valor dos passeios são sempre negociáveis e dependem da quantidade de pessoas do grupo, movimentação da cidade e necessidades das agências. A qualidade deles é quase circunstancial.

(Rua da Agência em que trabalhava em dia de chuva. Lama, literalmente)

Muitas questões relacionadas sobre a maneira como esses tours são organizados e feitos me impressionaram. Comecemos pelo fato de que basicamente qualquer pessoa que tenha dinheiro para investir em infraestrutura pode abrir uma agência de turismo lá. Se tomarmos em conta que eu comecei a vender os tours sem ter feito nenhum deles, dá pra entender a confiabilidade das informações que se pode receber.
Obviamente nem todas as agências são iguais. Muitas delas têm guias e vendedores realmente experientes, mas talvez o mais importante a ser revelado seja o fato de que escolher a agência que mais te agrada ou parece confiável nem sempre garante que o serviço será prestado por ela.

Sim, é absurdo e acontece. Pelo desgaste dos carros e custos gerais dos passeios, se o número de passageiros que compra um determinado tour não for considerado rentável, a agência geralmente transfere esses passageiros para outra, pagando um valor de mercado que chamam de trapaso e não comunicam o cliente. Como existe uma lista de tours regulares que não varia muito entre diferentes empresas, o que as agências fazem é contar com o serviço umas das outras para vender pacotes e não perder nenhum passageiro.

(Agência de tours em San Pedro. Foto tirada desse link)

Exemplo: se apenas uma pessoa compra um passeio a 20 mil pesos chilenos em uma agência x, uma agência y recebe essa pessoa como se fosse seu passageiro por 18 mil pesos chilenos pagos pela agência x.

Não é difícil prever os malefícios dessa estrutura: quando um passeio dá qualquer problema, geralmente as agências não têm muito como averiguar ao certo o que acontece e a responsabilidade nunca é “de ninguém”.


Como lidar?

Seguem algumas dicas que não garantem mas podem ajudar a fazer a melhor compra:

 - Tudo o que você quiser saber, pergunte. Não pense que nada está implícito na fala do vendedor e garanta que absolutamente tudo que você espera do passeio esteja acertado ou  seja possível de acontecer.

 - Simpatia não é profissionalismo. Assegure-se de que as informações que você recebe são verdadeiras. Conversar com outros turistas sobre os tours que fizeram pode ser muito útil.

(Mini vans, o trasporte mais comum dos passeios)

 - Agências grandes não costumam traspassar passageiros, mas recebê-los. Comprando com elas as chances de ter o serviço prestado por elas mesmas é bem maior.

 - Por outro lado, grupos muito grandes costumam fazer tours menos interessantes, ou personalizados. Como cada passeio depende da interação com o guia e conseguir um grupo fechado de 7 pessoas, por exemplo, pode ser muito útil para fechar um pacote e fazer todos os passeios com uma mini van. Além disso, se o grupo se repete a interação com o guia costuma ficar mais amistosa e possibilitar maiores negociações entre os roteiros formais e os interesses do grupo.

Quer saber mais sobre as aventuras de Tamira no deserto? Clique nesse e nesse link e aguarde o próximo post sobre os tours em San Pedro de Atacama

terça-feira, 3 de abril de 2012

Os temperos do deserto


“o verdadeiro charme das pessoas reside em quando
 elas perdem as estribeiras, quando elas não sabem
 muito bem em que ponto estão. (...). Aliás fico feliz de
 constatar que o ponto de demência de alguém seja a
 fonte de seu charme”. 

 Gilles Deleuze

Para explicar como foi viver um mês e meio no deserto é necessário explicar meu ponto de demência. Fui movida por paixões cheguei no Atacama sem saber muito bem onde estava e contava com a sorte para me estabelecer. Hoje, tenho plena consciência de que mudar-se para um lugar sem a perspectiva de poder voltar caso tudo dê errado não é o melhor tipo de adrenalina a se buscar na vida. No entanto, em dezembro de 2011, eu era só coragem, otimismo e espírito aventureiro – cheguei em San Pedro com dinheiro suficiente para durar uma semana e meia sem trabalhar.

(Porta de agência de turismo, em San Pedro de Atacama. Foto tirada desse link)

Toda a minha imprudência se baseava na promessa da minha amiga “que trabalho na cidade para quem fala três idiomas é ridículo de conseguir”. De fato, se você conhece alguém que já trabalha lá, encontrar emprego não é problema. Como tinha boas indicações em duas semanas arranjei dois empregos: trabalhava de 8h00 às 15h00 em uma agência de turismo e de 16h00 às 01h30 em um restaurante. Trabalhei vendendo tours sem ter feito nenhum deles e como garçonete sem nenhuma experiência prévia. Como? Aceitando ordens, sorrindo muito e falando português, inglês e espanhol. Muita disposição e domínio de mais de uma língua não raro é o suficiente para superar as burocracias de visto de trabalho e conseguir um emprego informal sem contrato – e isso é tão útil quanto perigoso.

Eu, garzona

Trabalhar em um restaurante no exterior foi um grande aprendizado. Profissional e pessoal. Aprendi muito sobre a cultura e comida chilena, sobre como é difícil atender pessoas, sobre como é se sentir impotente quando você não sabe qual é o limite entre o absurdo, a hierarquia e a diferença cultural.

(O gay friendly Expor. Foto tirada desse link)

Trabalhei no Restaurante Expor, o único realmente gay friendly de San Pedro e um dos mais badalados. Quando dizia que trabalhava lá a maioria das pessoas fechava a cara e dizia que achava “pesado”. Com o tempo, descobri que eles não se referiam à grande carga de trabalho, mas à quantidade de drogas que alguns dos empregados de lá consomem. Além disso, para minha surpresa, essa fala existia em muito por um preconceito quase generalizado ao status “gay friendly” do bar.

Apesar do trabalho duro eu gostava muito de lá. Eu não ganhava muito dinheiro por falta de experiência, mas contava com o pagamento diário de uma média de $ 12 000 chilenos (algo em torno dos R$45,00 entre gorjeta e pagamento de turno). Por sorte os garçons simpatizaram comigo e me ensinaram tudo com muita paciência, foram as melhores pessoas que eu encontrei por lá. E eu tinha que aprender TUDO: desde como segurar uma bandeja até como explicar em inglês os ingredientes dos pratos (que eu tampouco sabia o que eram em português). Uma das cozinheiras me odiava e até que ela se acostumasse com a minha ignorância linguística e cultural fui vítima de bullying.  Tive que aprender a lidar com brasileiros que clamavam minha atenção, como se eu pudesse me sentar, dar todas as dicas da cidade enquanto eu me esforçava para não derrubar nada no chão.

(O aconchegante pátio do restaurante Adobe. Foto tirada desse link)

Mesmo tendo trabalhado em um restaurante - o que geralmente cria ojeriza na maioria das pessoas - eu acabei me apaixonando pelos pratos chilenos. Apesar de dependerem muito de importações, o cardápio básico do país apresenta ampla variedade de frutas, legumes e temperos. Ou seja: comer no Chile é caro, mas vale a pena.  Além disso, sou obrigada a reconhecer que os peixes e mariscos do Pacífico não só têm um aspecto diferente como um gosto excepcional.

Fica proibido não provar

Pan y pébre: Entrada servida em quase todos os restaurantes. Consiste em fatias de pão acompanhados por um molho picante de tomate com cebola, ají (espécie de pimenta grande que pode ser amarela ou vermelha), azeite, limão, sal e pimenta. Cada estabelecimento tem sua maneira de produzir o pébre (se lê pêvere), mas a receita não costuma variar tanto.

Completo: Cachorro quente chileno. O tradicional traz salsicha, um molho picante de tomate e muita palta (abacate chileno. É menor que o brasileiro e é sempre servido com comidas salgadas, ou até mesmo como manteiga no pão)

P.S.: Quando disse que comíamos abacate com açúcar alguns chilenos fizeram a mesma cara que você provavelmente acabou de fazer ao imaginá-lo em um cachorro quente.

Ceviche: Peixe cozido apenas em suco de limão. Geralmente leva cebola, sal, condimentos como salsa e pimentão. Dizem as más línguas sulamericanas que o ceviche chileno é muito diferente do peruano.

(Ceviche feito por uma amigo chileno em Valparaíso)

Cazuela: Espécie de ensopado com legumes como batata, cenoura, abóbora, cebola e macarrão ou arroz. Pode acompanhar carne de boi, frango e até mariscos. É muito leve e nutritivo, geralmente tem gosto de “comida de casa”.

Mojito con coca o albaca: Como encontrar hortelã é bem difícil nas redondezas do Atacama geralmente o Mojito é feito com folhas de coca ou de manjericão (albaca em espanhol). Honestamente prefiro com hortelã, mas provar esse Mojito (e quase toda lista de drinks abaixo) é uma questão de imersão cultural.

(Uma das minhas cazuelas preferidas)

Michelada: Chopp com limão, sal na borda do copo e Merken (uma espécie de pó de ají defumado e aromatizado com ervas).


Pisco: Os argentinos estão para o Fernet assim como os chilenos estão para o Pisco. Esse destilado de uva é incolor e muito apreciado nas formas de Pisco Sour (quase uma caipirinha, trocando cachaça por pisco) e  Piscola (pisco + refrigerantes de cola)

Fanchopp: Não era raro ver pessoas tomando as tradicionais cervejas Escudo ou Cristal misturada com fanta.

(Compartilhando uma Escudo com minha amiga chilena)

Top 7 – Restaurantes /Bares

San Pedro tem quase uma infinidade de bons restaurantes. Às vezes fica realmente difícil escolher um, principalmente quando não se tem um padrão de custo benefício como base de comparação. Segue abaixo uma lista dos meus favoritos em qualidade/preço/atendimento.

 - Restaurant Sol (Rua Tocopilla, entre Caracoles e Gustavo Le Paige)
Depois de minha experiência de “Supremacia da Carne” em Buenos Aires, mal pude acreditar na qualidade das saladas desse lugar. São grandes, variadas e bem feitas. Além disso, os hambúrgueres também são deliciosos e podem ser divididos por 2 pessoas com satisfação garantida. Preço médio por refeição: $ 4000 pesos chilenos, sem bebida.

(Nas Delícias de Carmen as empanadas são especialidade. Foto tirada desse link)

 - Delícias de Carmen (Rua Calama, entre Gustavo Le Paige e Licancabur)
A opção Legumbres del dia acompanha salada e deixa satisfeito qualquer pessoa da Terra que ama verduras e vegetais bem preparados. Surpreendentemente essa sopinha de legumes tem o melhor custo-benefício da região – sai apenas a $ 1800 pesos chilenos. Além da opção econômica, as carnes são deliciosas e a qualidade da entrada e do suco natural em jarra se destacam.

 - Pasteleria (Rua Ckilapana, nos Pueblos Artesanos)
Um pouquinho mais afastado do centro de San Pedro, essa confeitaria oferece os melhores doces pelos menores preços: nada custa mais que $1000 pesos chilenos! Guardo amor eterno pela Torta Tres Leches e pela Torta de Frutilla.

 - Café El Peregrino (Rua Gustavo Le Paige, perto da igreja da praça Central )
O “cafezinho”, como conhecemos, não é o melhor, mas o Café Helado e o Milk Shake de Frutas naturais são ideais para o fim de tarde. O ambiente é fresco e agradável, ótimo para curtir a praça central da cidade.

(Para passar a tarde sem compromisso. Foto tirada desse link)

 - Heladería Babalú (Rua Calama, quase esquina com Domingo Atienza)
Definitivamente o melhor sorvete artesanal de San Pedro. O preço da bola de sorvete é de $ 1300 pesos chilenos e a parte mais difícil é conseguir não se viciar. Destaque para os sabores Frutas del bosque e o tradicional Chocolate.

 - Expor (Rua Caracoles com Toconao)
Oferece o melhor clima “balada gringa” do povoado. O bar sempre fica cheio e eventualmente há DJs e, dependendo da animação do público, a noite pode ser dançante. O bar não pode ficar aberto além das 1h30, mas é uma boa opção para esperar e descobrir onde é a festa clandestina do dia. Destaque para o Mojito de Coca e para o Drink San Pedro en Llamas.

 - Chelacabur (Rua Caracoles)
Como boa mineira me encantei com o único boteco da cidade. Mais frequentado pelas pessoas que vivem na cidade o bar oferece serviço rápido e a cerveja litro mais gelada da região. Abre às 10h00 e empresta baralho para os quem precisa matar o tempo ou quer fazer amizades.

(Telão na parede, pizza e cerveja gelada. Um paraíso para uma mineira. Foto tirada desse link)


Para saber mais sobre essa deliciosa experiência de Tamira Marinho em San Pedro de Atacama acesse esse link.