terça-feira, 20 de março de 2012

Do bom e do melhor

Eu nunca fui nos Estados Unidos e nunca pisei nos subúrbios americanos, aqueles bairros onde as ruas têm casas bonitas, jardins arborizados e calçadas de concreto para as crianças andarem de bicicleta. Mas já passei bem perto. Depois de um tempo a comparação parece tosca. Ainda assim, tenho que admitir que a primeira imagem que me veio na cabeça enquanto passeava pelas ruas do bairro de Vitacura, em Santiago, foi a de um subúrbio americano.

(Vitacura é considerado o local com maior desenvolvimento humano do Chile)

O bairro de Vitacura é, em uma palavra, um luxo. As casas são enormes e lindas. Os prédios são chiques e cheios de varandas. As lojas, luxuosas. Só pelas suas características imobiliárias dá para saber que o bairro não foi feito para todos. Para morar ali, é preciso dinheiro. Mas mesmo sem olhar para suas construções é possível ver que o tratamento que o bairro recebe é outro. As ruas são retas, as calçadas são equipadas com bancos e luzes e os jardins são bem cuidados.

Tudo é tão bonito que o bairro é, por si só, um ponto turístico. Andar sem pressa faz parte do roteiro do turista. Atividade que definitivamente não faz parte da rotina dos moradores, que só saem nos seus carros de luxo e parecem "inhabitar" o local. A avenida Alonso de Córdova, cheia de boutiques e lojas de marca como Louis Vuitton e Armani, é muito visitada. Outra avenida que atrai a atenção das pessoas é a Américo Vespúcio, devido ao seu enorme canteiro central que mais parece um parque.

(Com guarda-sóis e coqueiros, o Boulevard del Parque quase me fez sentir na chique Jurerê Internacional. Foto tirada desse link)

O ponto de encontro dos ricos moradores (e também dos turistas mais atrevidos) é o Boulevard del Parque, o praça de alimentação do Parque Arauco, o shopping mais bonito da capital. O local tem comida do mundo inteiro e uma programação cultural extensa. E se você acha que tudo se resume a um rodízio de música ao vivo está muito enganado. Vez ou outra grandes bandas e artistas renomados vão ao local para realizar seus shows.

E enquanto a vida segue tranquila em Vitacura... o frenesi toma conta de Las Condes, o bairro ao lado. No fim de semana talvez o clima seja o mesmo, mas nos dias regulares não há como deixar de reparar no fluxo de carros que atravessa as suas avenidas e nas pessoas engravatadas que andam por suas ruas na hora do almoço, sempre sérias. Igualmente impossível é não reparar nos seus arranha-céus modernos, feitos de vidros espelhados. Apesar do ambiente corporativo, há uma característica que iguala os dois bairros: o luxo. Não é por menos que Las Condes é conhecida como "Sanhattan", a Manhattan de Santiago.

(Ares de modernidade justificam o apelido do bairro. Foto tirada desse link)

Talvez por ter nascido antes de Vitacura, talvez por ser o centro financeiro da capital chilena, talvez por ser mais movimentada e demandar mais serviços, Las Condes oferece mais opções para o turista. É possível sentir essa diferença só de caminhar pelas suas ruas. As casas e mais casas dão espaço a prédios, lojas, bares e restaurantes. O melhor exemplo disso é a Avenida Isidora Goyenechea, onde estão boa parte desses estabelecimentos.

A parte disso, o Las Condes oferece também atrações de primeira. Uma delas é o Museu de la Moda, feito em uma linda mansão local. A ideia de criar o museu surgiu de Jorge Yarur Bascuñán, um empreendedor que vinha de uma família de grande tradição têxtil (o que justifica o fato de mais de 500 peças pertencerem a sua mãe). O foco do museu é nos anos 1950 e 1960 e, realmente, dá para entender bem o estilo da época após uma visita ao local. Entre as milhares de peças expostas estão roupas usadas por Marilyn Monroe e Kurt Cobain, além de peças desenhadas pelos mais famosos estilistas do mundo.

(O museu vive na escuridão total e é permitido tirar fotos, mas sem flash.Algumas das peças do museu e, abaixo, a jaqueta do filme "De volta para o futuro")

No museu há também de algumas raridades como uma das provas do vestido de noiva da princesa Diana, a jaqueta usada por Marty McFly no filme "De volta para o futuro" e uma jaqueta militar de John Lennon. Mesmo que ele não tivesse peças tão exóticas, o local vale a visita: é lindo, bem organizado e dá um banho de história através das vestimentas usadas naquela época.

Museu de la Moda é também o passeio perfeito para entender Vitacura e Las Condes, sem dúvida, os bairros mais ricos de toda a cidade. Mas a verdade é que o local guarda uma surpresa. O bairro mais moderno da capital - vejam vocês - é também onde está um dos centros comerciais mais antigos e típicos, o Pueblito Los Dominicos.

A primeira construção do local foi a igreja de San Vicente Ferrer Apoquindo. De paredes brancas e poucos detalhes, ela seria uma igreja comum, se não fosse seu tamanho e suas cúpulas verdes que podem ser vista a muitos metros de distâncias. O local aonde foi construída era propriedade indígena, pela qual respondia o cacique Apoquindo. No século XVIII, depois de ter sido trocada de dono algumas vezes, o local passou a ser propriedade de Antonia Portusagasti, que resolveu fazer uma igreja em memória a seus filhos, que morreram ainda crianças.

(Igreja de San Vicente Ferrer Apoquindo: a origem de tudo)

Com a morte da família Portusagasti, a igreja e todo o terreno ao redor ficou por conta da ordem dos Dominicos, que decidiram desmembrar a fazenda em diversas casas e criar um espaço para os camponeses do local. O espaço servira de casa aos sacerdotes e até refúgio para perseguidos políticos. Só na década de 1970, ele foi considerado Monumento Nacional. Foi quando a ordem dominicana permitiu a presença de artesãos do lado de fora do local. Quatro anos mais tarde, porém, o espaço foi cedido para que esses mesmos artesãos pudessem expor e vender suas mercadorias dentro do local, que ficou conhecido como Pueblito.

(Entrada do Pueblito)

O local tem chão de terra, pontes que atravessam um pequeno riacho que corta a propriedade, ruelas que mais parecem labirintos, casinhas brancas com móveis e detalhes em madeira, além de um pátio onde hoje há um pequeno restaurante. O mais engraçado é que apesar de não ter nascido como tal, o espaço é considerado uma réplica de um típico povoado chileno. E o próprio governo divulga o espaço dessa forma.

(Segundo o governo, uma reprodução dos típicos povoados chilenos)

Dois motivos nos fizeram passar horas no local. O primeiro é o seu tamanho. E associado a ele está o artesanato produzido ali dentro: quem quer mesmo observar com detalhes cada uma daquelas vendinhas (e acredita, vale a pena) vai precisar de algumas horas. Diferente do que acontece no centro de arte indígena ao lado do Cerro Santa Lucía, ou mesmo nas diversas feirinhas espalhadas pela cidade, aonde tudo parece réplica de arte, no Pueblito é possível encontrar artesanato original. As peças de cerâmica, pedra, madeira, lápis lazuli ou lo que sea são bem feitas e diferentes de tudo o que se vê na capital chilena. Afinal, o contraste entre o novo e o velho (em todos os seus sentidos) parece dar certo por aqui.

2 comentários:

  1. Vi teu post lá no FB nos Blogs de Turismo, e já estou por aqui fuçando em tudo :)
    Um abraço!

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  2. Que bom Patrícia! Fique a vontade que a casa também é sua! =D
    Abraços!

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