sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ares de metrópole

Há um bairro em Santiago que ainda não sabe a que veio. Sua paisagem mistura arranha-céus metálicos e casas residenciais de estilo colonial, parques cheios de árvores e largas avenidas. Assim é Providencia, um bairro com pessoas e usos tão diversos que fica até difícil classificá-lo. Centro comercial? Espaço para repouso? Talvez um pouco de cada um.

(Espaço para descansar ou trabalhar. Providencia tem ares de metrópole pois é um bairro para todos os tipos de uso)

Como o hotel em que estava hospedada era nesse bairro, posso afirmar com segurança: o Providencia pulsa a qualquer hora do dia. Se você ficar um pouco mais atento vai conseguir observar o cotidiano local. Quando o sol aparece, as ruas se enchem de carros e as calçadas de pessoas. Homens e mulheres, a passeio e a trabalho. Alguns têm como destino os prédios comerciais e os arranha-ceús metálicos. Outros estão ali a espera das lojas e supermercados, prestes a abrir.

O Providencia é mesmo um ótimo bairro para se fazer compras. Pode não ter os bazares descolados do Bellavista ou os preços acessíveis do Centro, mas tem uma ótima relação custo benefício. O negócio é fuçar. A rua Nueva de Lyon tem dezenas de lojas. O melhor é o brechó Nostalgico. Tem tudo o que os bons brechós oferecem, com a vantagem de que esse é realmente organizado. Ali também está o Edificio Dos Caracoles, que tem esse nome exatamente por seu formato em espiral. Boa parte das lojas vendem peças artesanais e únicas.

(Galerias ao longo do caminho e entrada para a loja Paris)

Ali perto você também encontra uma das filiais da rede de departamentos Paris. Ele me lembrou a Galeria Lafayete da França não pelo luxo, mas pela organização. As lojas Paris também são grandes galpões abertos onde as marcas disputam a preferência dos clientes sem precisarem erguer paredes ou muros. A cada andar há um tipo de produto a ser vendido, de roupas e acessórios a aparelhos eletrônicos.

O Providencia também é um ótimo local para comer. Ali estão as maiores redes de fast-food, as lanchonetes tradicionais, as docerias típicas e alguns dos melhores restaurantes da cidade. No almoço eles enchem de pessoas, normalmente trabalhadores. No fim de tarde, esses mesmos trabalhadores escolhem um bar para o happy hour, mas dividem o espaço com grupos de jovens, mulheres em momentos confidenciais e crianças se lambuzando de sorvete.

Claro que não experimentei todos, mas se me pedirem para lembrar de alguma comida que experimentei durante a viagem eu vou lembrar de dois restaurantes no bairro Providencia. Um deles é o Cafetto,  no térreo do Hotel Orly. O ambiente é pequeno mas super agradável. As vitrines do local deixavam a vista a paisagem do lado de fora, mas o que vem de dentro da cozinha é o que realmente interessa. Pedimos o prato do dia que vinha com entrada, prato principal, suco ou vinho e sobremesa. Um desse sai por menos de 20 reais e, se comparado aos preços e quantidades brasileiras (que sequer incluem uma taça de vinho), ficou bem barato. E delicioso! Sem dúvida a melhor refeição da viagem.

(O delicioso filé mignon no Cafetto)

O melhor jantar ficou para o Le Bistrot, restaurante francês no pátio do edifício Dos Caracoles. O cardápio tem pratos caros e refinados e opções baratas... igualmente refinadas. Pedi um crepe fermière, feito com frango, champignon, pimentão, cebola e queijo, além de um molho especial delicioso. Morei cinco meses na França, mas foi no Chile que comi o melhor crepe de todos os tempos.

(14 reais muito bem gastos, obrigada)

Como o Le Bistrot, existem ótimos restaurantes no bairro, o que garante um fluxo constante de pessoas também durante a noite. Com o expediente encerrado e parte do comércio fechado, as ruas do bairro Providencia encontram pessoas sem pressa. O horário para chegar no trabalho já não impede os pedestres de aproveitar o clima. Muitos ainda estão bem vestidos e normalmente são esses que estão em busca de uma noite mais agitada. Balada por aqui acontece, mas não costumam ser das mais agitadas. Bares com shows ou DJs são mais procurados.

E ainda que Providencia ofereça diversas opções de passeio, algumas pessoas estão ali só de passagem. Como o bairro está em uma região central, suas avenidas são destinos certos para quem quer ir de um lado para outro. O que não impede as pessoas que passeiam a esmo de aproveitar alguns dos pontos mais charmosos do bairro. Um deles é o parque das esculturas, um verdadeiro recanto de tranquilidade no meio da zona comercial da cidade. O parque tem como atração principal atração as 30 esculturas - muitas delas bastante instigantes - de artistas famosos. Isso sem contar os 21 mil m² de área verde.

(As obras são permanentes, mas dentro do próprio parque há um espaço para pequenas exposições temporárias)

Mesmo quem não para no parque encontra muito espaço verde pelas ruas da capital. Santigo é uma cidade muito arborizada, principalmente nas áreas mais residenciais. As ruas próximas ao parque são assim, lindas e tranquilas (menos na hora do rush). Uma hora ou outra você vai cruzar com o Rio Mapocho, importante curso fluvial que corta a cidade. Sua coloração marrom - um tanto quanto nojenta - não tem nada de natural. Suas águas costumavam ser cristalinas até os dejetos minerais, agrários, domiciliares e todos os outros serem despejados no rio. O governo já promoveu uma série de ações para despoluir suas águas e promete que até 2013 o local vai virar um grande parque.

E entre um passeio e outro, algumas surpresas. Para o meu espanto o Providencia também tem construções antigas, como a Igreja de Nossa Senhora da Divina Providência. De influência neo-renascentista, foi construída entre os anos de 1881 e 1890 para ser um orfanato, que funcionou até 1942 acolhendo cerca de 1200 crianças. Em 1955 o espaço aonde as crianças eram acolhidas foi demolido e no local só restou a capela e o claustro lateral.

(Porque o bairro chama Providencia? Agora parece claro)

Providencia tem de tudo. Negócio e ócio. Não há como dizer se as pessoas por ali são diversas porque o bairro tem de tudo um pouco ou se o bairro tem de tudo um pouco porque os frequentadores são tão distintos. E apesar de mesclar elementos tão diversos, o bairro não parece um monstro, mas uma verdadeiro metrópole. Afinal, metrópoles não param.

(Visão da área residencial de Providencia do terraço do hotel)

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