sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Arquitetura mista

Falar de Salvador é falar de história. É falar de faróis, casas antigas e igrejas barrocas. Mas nem só de antiguidade vive a capital baiana. Há menos de 200 metros da Praça da Sé, onde estão importantes igrejas e monumentos do período colonial brasileiro, como a Catedral Basílica Primacial de Salvador e as peças do Museu da Misericórdia, é possível encontrar construções recentes.

(O Palácio se mistura aos antigos monumentos baianos sem tirar o charme do conjunto. Aliás, muito pelo contrário)

O primeiro edifício a chamar atenção é o Palácio Rio Branco que, na verdade, começou a ser construído em meados do século XVI para ser como centro administrativo da coroa portuguesa e recebeu diversas alterações e ampliações com o tempo. Desde então o local foi serviu como quartel, prisão e espaço para receber importantes personalidades da política, como aconteceu em 1859 quando Dom Pedro II visitou a Bahia.

Já no século XIX, a antiga fachada em estilo colonial parecia ultrapassada, principalmente para um país que estava prestes a se tornar República. O edifício então passou por uma grande reforma até ser novamente inaugurado em 1900. As paredes com símbolos coloniais passaram a exibir um estilo neoclássico imponente. O que ninguém imaginava é que doze anos depois elas seriam praticamente destruídas. A luta de poder entre as oligarquias de Salvador foi responsável por um bombardeio que deixou severas marcas na cidade e, principalmente, no Palácio, que teve de ser totalmente reconstruído. Ele ficou pronto em 1919, quando então recebeu o nome de "Rio Branco".

(Gabinete Português de Leitura com o antigo Palácio Rio Branco - já em estilo neoclássico - ao fundo. Foto tirada desse link)

Felizmente, ao contrário do que acontece com muitos monumentos na cidade, o edifício passou por uma grande restauração em 1984 devido ao péssimo estado de conservação em que se encontrava. Em baixo daquele calor de quase 40 graus, o Palácio Rio Branco estava lindo - e branco - para que moradores e turistas como eu pudessem desfrutar a paisagem.

Na mesma praça, mais duas construções peculiares. Uma delas era a escultura de uma cruz caída feita pelo importante artista modernista Mário da Silva Cravo, encomendada pelo governo no ano de 1999 em comemoração aos 450 anos da fundação da cidade. A escultura, que se chama exatamente "cruz caída" faz referência a demolição da Igreja da Sé para a reforma da praça que passaria a abrigar o terminal de bondes da cidade. Hoje, na falta de bonde, o espaço de transformou em terminal rodoviário.

(A mim, por mais que tenha sido encomendado pelo governo, é um sinal claro de protesto contra a demolição da igreja)

A outra construção, de tão peculiar, se transformou em um dos pontos turísticos mais famosos da capital baiana: o Elevador Lacerda. O equipamento foi construído para facilitar a locomoção dos moradores entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa. Inaugurado em 1873, o elevador tem 72 metros de altura e uma vista linda da cidade.

Eu pensei que a vista ia durar toda a viagem, por mais que a viagem vertical entre um ponto e outro da cidade fosse curta... mas foi aí que eu me enganei. Um esclarecimento aos desavi-sados: o elevador NÃO é panorâmico. Por que eu pensei que fosse? As vezes porque a parte de cima é toda aberta, as vezes porque eu pensei que qualquer arqui-teto, frente a uma paisagem como essa, fosse pensar em trocar cimento por vidro. Fato é que a viagem é curta e sem emoção. Eu me senti, literalmente, dentro de um elevador de prédio residencial.

(Vista para a Baía de todos os Santos e para o prédio do 2º Distrito Naval da Marinha do Brasil)

Quando cheguei lá embaixo entendi porque as pessoas dividem a capital entre cidade alta e baixa. É realmente outra cidade. Se em cima reinava a história, o turismo, o artesanato, a culturas popular, a gastronomia típica, embaixo reina o comércio, a cidade de serviços caóticos e de trabalho duro. Tive vontade de sair caminhando simplesmente para me misturar, para fugir dos olhos preconceituosos dos homens e mulheres de sapato olhando para os meus pés e meus óculos escuros de turista. Sem contar os olhos dos comerciantes que, ao verem os mesmo trajes turísticos, se aproximavam oferecendo os mais distintos objetos.

(Comida, artesanato e lembranças da Bahia)

Mas desses eu não conseguiria me esquivar, pois acabei entrando exatamente no espaço comercial por excelência. O Mercado Modelo foi inaugurado em 1912 devido a necessidade de um espaço de abastecimento para a Cidade Baixa. O local não foi atingido pelo bombardeio, mas sofreu um enorme incêndio em 1969 que o deixou em ruínas. Dois anos depois os comerciantes passaram a ocupar o edifício da 3ª Alfândega de Salvador com o aval do governo, um prédio em estilo neoclássico tombado pelo como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Hoje, o galpão abriga 263 lojas que oferecem artesanato, comida típica e lembrancinhas de todos os tipos.

Quando chegamos lá dentro estava tudo escuro e abafado. Pensamos ser assim e começamos a andar. Burburinho nos corredores. Pensamos em perguntar mas já estávamos sendo atacados pelos comerciantes e a pergunta só ia aumentar o assédio. Mas um deles falou "vocês deram azar porque faz uma hora que estamos sem luz...". O calor estava mesmo insuportável. Saí sem muito pesar pois, na verdade, não vi nada por ali que me parecesse uma obra prima. O Mercado padecia do mesmo mal de tantos outros locais que buscam reunir artistas da região. O turista busca souvenir, o comerciante faz souvenir. E assim a arte se perde.

(Uma das lojinhas mais originais do Mercado Modelo)

Então melhor terminar o dia com algo realmente típico de Salvador: história. Para aproveitar os últimos raios de sol fomos até o Forte Nossa Senhora de Monte Serrat. Apesar de ter sido construído em 1742, ele apresenta bom estado de conservação e, o mais importante, um belo visual do mar azul.

(Casal simpático aprecia a paisagem)

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