sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Lindas paisagens (e outras nem tanto) de uma Paris em neve

Depois de uma ceia de natal meio melancólica, fomos espantar a tristeza da melhor forma que um turista poderia fazer em Paris: passeando. Nossa amiga de intercâmbio também estava na capital francesa com seus pais e combinamos de nos encontrar no Jardim de Luxemburgo ,às 11h da manhã. Assim, acordamos cedo, colocamos nossas roupas - o que no inverno significa gastar muito tempo - e pegamos o metrô em direção ao 5º arrondissement, o mais antigo da cidade.

(O Jardim de Luxemburgo, símbolo da região)

Sem querer, passamos por um monte de monumentos históricos. Aliás, a graça de Paris é exatamente essa: a cidade inteira tem um monte de monumentos históricos. É como se estivéssemos em um museu a céu aberto. É só se distrair e... voilà, algo grandioso para ser visto. Foi por causa disso que começamos a brincar que, se houvesse algum prédio ou estátua que não pudéssemos identificar, pelo menos saberíamos que ele é um patrimônio público, com mais de 200 anos de história e que tem relação com a Revolução Francesa.

Entre esses estava o Panteão, monumento em estilo neoclássico construído entre os anos de 1758 e 1790. O prédio foi uma promessa do rei Luís XV à Santa Genoveva, a qual atribuiu a cura de uma forte gripe. O local passou de igreja católica à templo republicano e à museu da história da França, o que faz com que os elementos que marcam sua arquitetura permitam ao visitante percorrer a própria história da França. Hoje, ele serve à honra de importantes personagens e eventos que marcaram o país.

(O local estava fechado a visitação. Uma pena, pois ele parece impressionar tanto por fora quanto por dentro. Segunda foto tirada desse link)

Ao redor, uma série de prédios monumentais (como praticamente tudo em Paris). Mas uma linda construção ali do lado se destaca. A igreja de Saint-Étienne-du-Mont é injustamente pouco cohecida. O estilo gótico não é nem de perto tão bonito quanto o de outros pontos turísticos, por exemplo a Igreja de Notre-Dame, mas a graça está na fachada irregular. A torre de um lado só, as pequenas janelas, os detalhes, ora triangulares, ora redondos, fazem a igreja se parecer a um brinquedo de madeira esculpido a mão.

(A bela e singela Saint-Étienne-du-Mont)

Chegamos então ao Jardim de Luxemburgo. A mim, que o vi no auge do verão, foi um choque. Não me pareceu bonito, sequer charmoso. E não adianta as estátuas no meio do caminho, as fontes congeladas e sequer o palácio de Luxemburgo ao fundo. Jardim que é jardim precisa de verde. A neve que cobria os 23 hectares do local o deixou comum, por vezes sombrio. Sem contar que é impossível ficar ali por muito tempo sem sentir os dedos congelando. Demos uma volta cautelosa para não escorregar naquele rinque de patinação e fomos embora. Entramos no Subway mais a frente para esquentar o corpo. Comemos um sanduíche também, mas o almoço pareceu somente uma desculpa.

Nesse ponto nos separamos e então seguimos pela margem do Rio Sena até chegar à Île de la Cité, onde fica a famosa Catedral de Nossa Senhora, mais conhecida como Notre-Dame. No fundo, ela é uma das igrejas mais estranha que eu já vi. Ela é retangular, com duas torres que parecem inacabadas e não tem nenhuma cruz. Mas ainda assim é uma das mais bonitas. Apesar da sua arquitetura inusitada, as estátuas e os detalhes preciosos da igreja deixam qualquer pessoa boquiaberta. Percebe-se então que os mais de 180 anos de construção não foram jogados fora. Por dentro ela é igualmente bonita. Juntam-se então dois pequenos detalhes: as rosáceas de vitrais. Com 13 metros de diâmetro, são as maiores de toda a Europa.

(No Natal uma grande árvore fica na frente da igreja. Dentro, é possível ver o presépio)

Mas se você achar a igreja de Notre-Dame inusitada, experimente dar uma voltinha do lado de fora. Ela é completamente diferente vista do lado esquerdo ou do lado direito, e ainda mais random se vista por trás, aonde se vê uma torre que liga uma série de arcos com detalhes pontiagudos. O diferente, nesse caso, não quer dizer feio. Na saída, um passeio sem pressa às margens do Rio Sena ainda dentro da Île de la Cité.

(Notre-Dame vista de costas é praticamente outra igreja)

Três em um

Os nossos próximos passos juntavam exatamente a vontade de cada uma de nós. A Fafá queria visitar o Moulin Rouge, a Tissi queria reproduzir os passos da Amélie Poulain, e eu queria voltar a Igreja do Sagrado Coração, o local mais alto da capital francesa e de onde é possível ter uma das mais belas vistas da cidade. Todos os caminhos levavam ao bairro Montmartre.

(Engraçado como, pensando agora, esses passeio dizem muito sobre a personalidade de cada uma de nós)

Paramos na estação Pigalle e fomos direto para o Moulin Rouge. Do lado de fora, ele perde metade do seu glamour quando ainda há luz do sol, sem os néons que cercam a fachada do cabaret. Do lado de dentro, o tapete vermelho e as fotos das modeletes seminuas (ou totalmente nuas) que já se apresentam por ali não deixam a desejar. Infelizmente, não é possível entrar. As portas se abrem às 23h para os endinheirados dispostos a pagar em torno de 100 euros pelo espetáculo.

Fomos então dar uma voltinha pelo Boulevard de Clichy, aonde ficam as sexy-shops da cidade. O engraçado é que a rua parece concentrar realmente TODAS elas. São lojas de diferentes tamanhos para diferentes públicos com tudo o que se pode imaginar. No meio desse mundo de fantasias sexuais e vídeos pôrnos, uma porta levava ao Museu do Erotismo, no qual a Fafá conta tudo no seu blog Norma Lúcia e os visitadores.

Na subida ao Sacré-Coeur fomos passando por pontos que foram cenários do filme Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, um dos maiores sucessos do cinema francês. A comédia romântica é uma representação - por vezes idealizada - da rotina dos moradores de Montmartre, bairro que ficou famoso no século XIX por ser ponto de encontro de artistas e intelectuais como Cèzanne, Va Gogh, Renoir e Monet.

(As ruas de Montmartre assim como a Place du Tertre funcionam, hoje, em função do turismo)

Símbolo desssa época é a Place du Tertre, aonde habilidosos pintores reproduzem as paisagens de Paris e também o rosto das pessoas. O local é pouco visitado pelos moradores, mas enche de turistas, fato que faz os habilidosos artistas receberem também o adjetivo de insistentes.

Quando chegamos ao Sacré-Coeur já era noite. Naquele 25 de dezembro, uma legião de fiéis fazia fila na igreja. Apesar do sem número de turistas que passeavam pela basílica, a missa transcorria normalmente, com um silêncio forçado, mas respeitoso. Por isso saí rapidinho. A paisagem do lado de fora já bastava. O branco "insujável" do mármore que recobria a igreja era tão claro que acabava com a necessidade de iluminação. Melhor assim, pois as luzes da cidade lá em baixo pareciam ainda mais fortes. Na volta, uma paradinha no Moulin Rouge enfim iluminado (e glamourouso).

(Estupendo mesmo no escuro)

Como na caixa de bombom

Se minha segunda viagem a Paris valeu por algum motivo, esse motivo foi ver o Champs-Elysées todo iluminado pelas luzes de Natal. Valeu a noite sem a família, a ceia com lasanha de microondas, o hostel de quinta categoria, as batatas da perna doendo, os dedos dos pés congelados. Quando ia ao supermercado de Clermont via a caixa de bombons da Lindt com aquela imagem que a mim era o resumo do natal parisiense. Uma foto não reproduz, mas acredite: é ainda mais bonito que na caixa.

(A caixa de bombons da Lindt e o cenário na vida real. Paisagens de tirar o fôlego. Foto tirada desse link)

O frio parou. Eu não tinha pressa nenhuma de sair daquele lugar. No fim de um dos lados, o Arco do Triunfo. No outro, uma imensa roda gigante. Além das luzes a avenida recebia também um mercado de natal. Ao longo dos dois lados da via tinham barraquinhas de madeira vendendo artesanatos, lembranças, roupas, comidas e bebidas. Sem contar as lojas e restaurantes que ficavam abertos para aproveitar o movimento. Milhares de pessoas passavam pelo local. Escutamos todas as línguas possíveis e percebemos que tinha um mundo de brasileiros por lá, brasileiros que saíram do verão de 40 graus para cair no inverno de -5. Pareciam aproveitar como nós! Era o espírito de natal. Chegou tarde para mim, mas veio naquela noite.

Curtição na capital francesa

Quando os pés moídos e dormentes encontraram a porta de entrada do albergue eles pediram por um descanso. Mas dormir pra quê, afinal? Quando subimos a escada do albergue escutamos uma risada em unísono descer pelos corredores. Logo depois, algumas palavras em português. Paramos na porta, demos um "oi" e pronto, estávamos em casa.

(A noite no Champs Elysées... pena que a avenida ficava a quilômetros (e euros) de distância)

Era um grupo de mais ou menos 8 brasileiros, que juntos com alguns mexicanos iam sair para beber uma em qualquer bar perto do hotel. Recebemos o convite logo de cara. Os bares do nosso bairro estavam todos fechados ou fechando. Parece que a lei de Clermont-Ferrand, se aplicava a toda a França. As boites podem ficar abertas até o amanhecer, mas os bares têm alvará para funcionamento até no máximo 2h da manhã, sendo que a maioria fecha meia-noite. Sentamos no primeiro que encontramos e então foi um falatório só. Enquanto os turistas se aproveitavam do nosso francês, a gente ria da indignação deles com relação aos grosseiros parisienses. Estava na cama de novo às 3h da manhã, torcendo para dormir o suficiente para o próximo dia.

3 comentários:

  1. Legaaaaaal!!! Me identifiquei em vários momentos aí!!! Fui a Paris em janeiro e ainda estava iluminada também!! Lindaa!!

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  2. Ai saudade! Menos do meu pé doido, fato.

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