terça-feira, 16 de agosto de 2011

Clima de cidade grande

Marseille foi uma cidade que eu não conheci. Se me perguntarem o que achei de lá vou citar pontos turísticos, o comportamento das pessoas, as impressões que vivi, mas jamais poderei agir como um conhecedor. Jamais poderei falar "você não pode deixar de ver tal lugar" porque eu simplesmente não sei dizer que lugar é esse.

Não dá pra visitar Marseille em um dia. Ela é imensa. Principalmente para um país cheio de cidades "anãs" como a França. Muitos dos meus amigos franceses moram em vilarejos de 300 habitantes. Por isso é normal que Clermont, com seus 150 mil habitantes, seja enorme. Marseille então, no auge dos seus 850 mil, é gigantesca.

(Clima de cidade grande até nos posteres colados nas ruas)

Chegamos no final da tarde, na hora do rush. Foi engraçado porque até tinha me esquecido o que era engarrafamento. Nunca vi engarrafamento em Clermont. As ruas sempre tinham muitos carros estacionados, mas como o transporte público é pra lá de eficiente a maioria ia trabalhar de ônibus ou metrô, sem contar nas bibicletas que rodavam felizes pela cidade plana. Mas Marseille tem cara de cidade grande. Ruas, avenidas, viadutos... e um trânsito barulhento às seis horas da tarde. Isso sem falar na greve de caminhões de lixo que foi tema do último post... Ficamos com preguiça de dar uma voltinha pra conhecer um pouco melhor a cidade e fomos direto para o hostel.

Depois de um dia sem tomar banho e alguns dias sem uma cama decente, o hostel que encontramos era como o paraíso. Era todo colorido e cheio de cadeiras, além de possuir totó, mesa de sinuca e uma grande cafeteria perto da cozinha, utilizada para eventuais festinhas. Tomamos banho, cochilamos e fomos dar uma volta.










(Nosso hostel: um sonho dourado)

Vida noturna

É noite e Marseille não para. Os bares estão cheios de gente e as boates começam a abrir. Não encontramos um quarteirão sem lojas, bares ou pessoas ali no centro da cidade. Encontramos a vida noturna que a gente procurava. Com a certeza de que a gente ia fazer alguma coisa naquela noite, fomos conhecer alguns pontos históricos da cidade.

O primeiro lugar que vimos foi a igreja São Vicente de Paula. No local aonde foi construída a igreja existia uma capela protestante do século XVII. Mas em 1868, após o regime francês que separou as diferenças religiosas das decisões do estado, a capela foi destruída para dar lugar à nova igreja. As obras terminaram em 1886. De estilo gótico, o principal ponto da igreja são suas duas torres de 70 metros de altura.

(Saint-Vincent de Paul. Foto tirada desse link)

Tivemos sorte com o outro cartão postal daquele dia porque ele, com certeza, fica mais bonito a noite. Foi sem querer que chegamos até a prefeitura do departamento (região) de Bouches-du-Rhône, um prédio de 90 metros de comprimento construído em 1866. Quem olhar com um pouco mais de atenção para o edifício vai ver que ele apresenta algumas curiosidades. Por exemplo, cada uma das fachadas do prédio apresentam quatro estátuas. Outro fato interessante é que as janelas de cada andar apresentam um desenho diferente: as do primeiro andar terminam em forma de círculo, as do segundo em forma de triângulo e as do terceiro de forma retangular.

(A noite os jardins com luzes amarelas, roxas e verdes deixam o espaço ainda mais bonito)

Vida errante

No outro dia voltamos ao centro histórico para continuar o passeio, sem um roteiro pré-estabelecido. A um quilômetro da capela de São Vicente de Paula fica o antigo porto da cidade. Para chegar até ele é só andar pela avenida La Canebiére, a principal avenida do centro histórico de Marseille. Curioso foi descobrir que o nome Canebiére veio da palavra latina cannabis (sim, maconha). Isso a cidade era uma das maiores fabricantes de cordas do mundo e elas eram feitas com as fibras dessa planta.

O antigo porto foi o centro econômico da cidade até a metade do século XIX, quando o novo porto foi construído. Durante a Segunda Grande Guerra o local sofreu diversos ataques. Suas rotas foram dinamitadas e mais de 30 mil pessoas foram expulsas do local. Grande parte dos judeus que moravam ali foram enviados aos campos de concentração franceses...

(Na "garagem" do antigo porto encontramos barcos particulares e embarcações para passeios turísticos)

Com o fim da guerra, o local foi reconstruído. As principais mudanças levavam em conta as atividades comerciais do local. Embarques e desembarques de mercadorias se tornaram cada vez mais raros e em 1976 a pesca foi transferida para o porto de Saumaty. Hoje, o porto é um espaço agradável para fazer uma caminhadas e aproveitar o dia. Os únicos barcos estacionados são de uso particular ou turísticos.

Quem segue o calçadão até o final do porto vai chegar ao Forte Saint-Jean. Há vestígios de que os primeiros habitantes desse pedaço de terra foram os gregos, ainda no século VI a.C. O forte foi construído estrategicamente pelo rei René na metade do século XV. Além de proteger a cidade, o forte se tornou prisão na época da Revolução Francesa e depósito de munição durante a Segunda Grande Guerra.

(O forte e vista. Foto tirada desse link)

Para nós, o porto não guardava algum problema. Me lembro que ficamos cerca de uma hora por ali, apreciando a paisagem. De todos os pontos que visitamos na cidade, aquele era o mais aconchegante. O céu azul e sem nuvens deixava o sol quente chegar e diminuir o frio do final de outubro. Nesse mesmo dia uma amiga me enviou uma mensagem dizendo que na cidade dela tinha acabado de nevar. Ela morava a 100km de Clermont. Agradeci aos deuses por estar ali, perto do mar, com o sol a pino. Estava ansiosa para ver neve, mas com receio do frio, e sabia que ao voltar para Clermont passar por isso seria uma questão de tempo.

Ali do forte vimos duas igrejas. Uma estava a esquerda, em um ponto que devia ser o mais alto da cidade. Era a basília de Notre-Dame-de-la-Garde. Para chegar ali seria preciso voltar ao centro histórico e andar sabe-se lá quanto. A outra estava a direita, a alguns metros de distância, as acessível. Diferente e muito bonita.

(O pijama de Marseille. Um apelido engraçadinho para uma suntuosa catedral. Se ela parece pequena na foto, compare com os carros )

Foi assim que chegamos à Catedral de Marseille. Já disse que estou longe de conhecer a cidade, mas tenho certeza que vale a pena deixar um monte de outros passeios para ir na Catedral. O edifício foi construído de 1852 à 1893, e é a única catedral feita na França durante o século XIX. De estilo romano-bizantino, os habitantes a apelidaram de "pijama", por ser listrada de preto e branco.

Por dentro ela é ainda mais impressionante. São 142 metros de comprimentos e torres que chegam a 70 de altura. As pedras utilizadas para sua construção foram, em sua maioria, pórfiro e mármore. O ouro está em todos os lados. Sem contar que a catedral é um deslumbre de cores. É um assunto que vou deixar para Paris, mas já adiantando, eu adoro cores. Isso começa no meu guarda-roupa e acaba em monumentos. Cidades beges e clássicas são lindas, mas nada como espaços coloridos. O clima é diferente. E foi o que eu senti na catedral. Dos mosaicos no chão às pinturas do teto: o espaço é impressionante. Foi uma última visita de sorte.















(Detalhes de tirar o fôlego)

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