segunda-feira, 30 de maio de 2011

Para os primeiros e últimos anos de vida

De repente, a rádio falava italiano. Estavam discutindo alguma coisa que parecia futebol. E podiam não estar discutindo nada também (sempre me disseram que quando o sitalizanos conversam parecem que estão brigando). Era a certeza de que estávamos em Menton. A cidade do litoral francês faz divisa com o a Itália e escutar alguém falando "Grazie" por lá não é novidade.

(Vista do mirante do Boulevard de Garavan)

Chegamos a noite e fomos encontrar com o tio de uma amiga nossa que ia nos emprestar um apartamento durante três dias, o que reduziu um bocado os nossos custos! Nesse dia até saímos um pouco do ap. Demos uma voltinha pelas ruas próximas, mas voltamos em seguida. Dormimos.

No outro, acordamos cedo e fomos conhecer a cidade. A primeira coisa que chamou a atenção (e a primeira foto da máquina) foi de uma árvore que estava em frente ao nosso prédio. Pequena, carregava alguns frutos verdes que só iam amadurecer com o tempo e com o sol. Eram limões. A cidade é cheia de limoeiros. E reconhecida por eles. Menton é a cidade do limão, que se frutificam em abundância graças ao clima mediterrâneo do local. No século XIX, o fruto já foi o mais importante produto econômico.

Ele está em tudo: dos cartões postais ao brasão da cidade. E é também o protagonista da maior festa. Nas duas últimas semanas de fevereiro, Menton celebra a festa do limão, com uma programação que inclui desfiles de carros alegóricos feitos com a fruta.

(Praça de Menton decorada para a "fête du citron". TUDO é feito de limão. Foto tirada desse link)

Se o clima de Menton é agradável para os limoeiros também o é para as pessoas. Por ser uma cidade pequena, litorânea, com clima estável e temperaturas amenas, a cidade atrai pessoas que querem se desligar um pouco do ritmo atribulado de trabalho. É um local para se aposentar. Não é por menos que grande da sua população de cerca de 28 mil habitantes seja de adultos e idosos que prezam pela qualidade de vida.

Isso estrutura também o que esperar do local. Poucos bares e um bocado de bistrôs simpáticos. Nem tudo é barato. As praias não são uma passarela aonde passam mulheres e homens bonitos. Não é o melhor lugar para paquerar. E também não vá para Menton esperando uma boa balada. Elas existem, mas são restritas. Nós sequer a encontramos (apesar de perguntarmos a mais de uma pessoa). Poucos bares estavam abertos. Mas a tranquilidade "mentoniana" ainda encanta.

(Ruela da cidade velha)

Andanças

A primeira coisa que fizemos pela manhã - antes de olhar mapa, roteiro ou mesmo o relógio - foi dar um jeito de encontrar o mar. Brasileiro tem alguma coisa com praia... mineiro então. A areia era bege, com muitas e muitas pedrinhas ao invés das típicas conchas. Apesar do sol, o tempo estava um pouco fechado, com algumas nuvens, e por isso a cor do mar era azul clara, como água de piscina.

(Le Bastion)

Ficamos um tempo lá e fomos andando. O Bastion, construído pelos príncipes de Mônaco em 1636, em alto mar é uma das construções que chamam atenção no meio do caminho. Hoje, ele gaurda o museu de Jean Cocteau, poeta, dramaturgo, cineasta... um verdadeiro mil e uma utilidades. O destino final era o porto de Menton. Pela passarela que passamos, é possível ver o mar de um lado e o porto do outro, com as casas amarelas, rosas e laranjas ao fundo. Uma das imagens mais bonitas da cidade.

(Uma das marcas do litoral francês é a cor das sua construções)

Com essa linda imagem a frente pensamos "vamos lá!" e começamos a subir e entrar em todo qualquer beco a nossa frente. Essa é a parte mais antiga da cidade. As ruelas apertadas, cheias de degraus, foram construídas em cima daquelas montanhas ainda na época medieval. Os habitantes enchiam as passagens de vasos e plantas.

Mais acima, uma escada em zig zag leva a uma das únicas áreas de respiro daquela parte da cidade. Lá, a pequena praça da Conceição, com duas igrejas que formam um dos mais belos cojuntos barrocos da região. A principal é a basílica de Saint-Michel, construída em 1619. Como passou por uma recente restauração, o monumento mantém suas cores fortes e seus detalhes bem marcados.



(O espaço era tão pequeno que nem dava pra tirar da igreja toda de perto. A direita, uma amostra de que até santo gosta de futebol)


Continuamos subindo e subindo até o ponto mais alto da colina. Encontramos, por acaso, o antigo cemitério da cidade. Certa vez ouvi dizer que antigamente os cemitérios eram construídos no quintal das igrejas ou no alto de montanhas para que as almas dos mortos ficassem mais perto de Deus. Mas ainda me causa estranhamento - e um pouco de preconceito - ver um espaço tão bonito, com uma das melhores paisagens da cidade, ocupado por um monte de caixões.

Pelo menos esses caixões eram especiais. E de toda parte do mundo. As lápides estavam escritas em francês, italiano, inglês, russo e outras tantas línguas que eu não sabia diferenciar. Alguns eram verdadeiros templos, como a casa construída para enterrar um dos príncipes da família russa Trubetzkoy. O espaço tinha portas de madeira maciça, cerâmica refinada e cúpula dourada.


(A esquerda, o túmulo do príncipe. A direita, a vista do cemitério. Ele é todo cheio de pequenos detalhes como cruzes de marfim e estátuas de anjo. Por vezes, parece uma igreja a céu aberto)

Lá de cima outra marca da cidade: o verde. Menton é toda arborizada, mas guarda também parques e jardins especialmente planejados. O mais famoso é o Boulevard de Garavan, um caminho arborizado de quase três quilômetros no meio da sua colina feito em 1888. Esse jardim suspenso é conhecido como "o sonho da babilônia", e apresenta plantas típicas da região, além de uma flora tropical. O mirante do Boulevard dá a ver toda a cidade.

Break time

O dia foi abrindo e as nuvens rareando. O sol bateu forte. O mar então tomou aquela cor azul anil que a gente tanto vê nas fotos. E uma vontade louca de nadar. Fomos descendo. As ruas ficavam cada vez mais espaçadas. Lá embaixo, algumas construções mais suntuosas, como a prefeitura e o hotel Oriente, enorme.

(A prefeitura de Menton reflete a arquitetura simpática da cidade)

Quando chegamos novamente a beira mar, procuramos uma loja para comprar biquínis pois uma das meninas estava sem. Se vocês ainda não entendem porque as lingeries e as roupas de banho brasileiras são famosas, é só entrar em uma dessas lojas. A parte de baixo ou é fio dental ou é enorme. Enorma quer dizer: um short. O pano é ruim, não tem forro e as estampas são feias. E com esse tanto de defeito eles ainda são caros. O mais barato era 15 euros: preto, com fios soltando e um sutiã que nem minha avó usaria. Desistimos, claro.

Sentamos em uma escadinha e ficamos admirando a cor do mar. O sol confortava. Um velinho nadava ali perto e uma família arrumava o guarda-sol enquanto as crianças corriam de um lado para o outro com seus carrinhos e pás de areia. Menton é paraíso escondido do Sul da França.

(O mediterrâneo é mesmo azul anil - não, não é photoshop)

Um comentário:

  1. Ai, momento nostalgia! Menton foi uma das cidades que eu mais gostei de visitar na viagem do sul! =D
    E vc esqueceu de mencionar que um castelo foi derrubado pra construir o cemitério. Oi?

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