terça-feira, 7 de setembro de 2010

Diferenças culturais

Os hábitos franceses me deixam cada dia mais curiosa. Adoro sentar no parque, ou mesmo no hall da minha moradia, para observar as pessoas. Eles não são tão diferentes assim de nós e, provavelmente, de todos os outros seres humanos do mundo. Todos gostamos de conversar, de andar em grupo, de escutar música, de ficar na internet...

Mas o que não é a cultura, não é mesmo? Há certos hábitos e atitudes que são simplesmente únicos. A primeira coisa que me chamou atenção foi o tom de voz, como disse no outro post. Os franceses falam baixo, seja no telefone, seja ao vivo. Claro que existem suas exceções. Adolescentes, por exemplo, são adolescentes em qualquer lugar do mundo, e eles falam alto. Mas, mesmo assim, não tanto quanto no Brasil. A regra também vale para bares e boates: algumas pessoas podem até elevar o tom de voz, mas o ambiente não fica chato ou insuportável.


(A loja Virgin é gigantesca. É uma Leitura Megastore mil vezes maior. E eles ainda vendem - muitos - discos de vinil. Sempre cheia de pessoas e músicas, o barulho é bastante suportável)

As pessoas aqui também parecem não ter pressa. Em Paris, capital, ou em Clermont-Ferrand, minha cidadela do interior, as pessoas não correm. Elas andam normalmente, como se estivessem passeando. Deve ter alguma coisa a ver com a eficiência do transporte público. Afinal, eles tem metro. É barato, rápido, e se você perder um não precisa esperar nem 10 minutos para pegar o outro. Além de não correr o risco de pegar engarrafamentos.

Pra comer é a mesma coisa: pressa nenhuma. Quase todos têm cerca de duas horas para almoçar. Sair do trabalho, ir a um restaurante ou em casa, sentar, esperar a comida, comer, conversar, voltar ao trabalho. Coisa que nós, brasileiros, fazemos em uma hora. Coisa que certas pessoas sequer fazem (pois pulam o almoço ou comem fast-food).


(O famoso Croque Monsieur, um grande misto quente, só que com queijo e pesunto do lado de fora. Até isso vem com uma saladinha)

E por falar em comida, como eles comem. Um prato de almoço tem entrada, prato principal e sobremesa. E um pãozinho pra acompnahar que ninguém é de ferro. Ainda assim, eles são magros. Não são magros esqueléticos, mas não se importam tanto com o peso como no Brasil. As pessoas comem sem pensar se aquilo tem 3 ou 300 calorias. A diferença está nas escolhas. Vou copiar aqui um típico menu francês para toda a semana:

SEGUNDA: Salada de beterrabas com croutons, couscous de cordeiro com legumes cozidos, iogurte e frutas da estação.

TERÇA: Salada de cenoura ralada com molho de limão, carne de porco ao molho de mostarda, ervilhas, queijo branco e frutas caramelizadas.

QUARTA: Alface com abacate, bife grelhado com feijão, nectarina e salada de frutas.

QUINTA: Salada de batatas, bife de peru ao molho de curry com vagem, queijo dos Pirineus e frutas da estação.

SEXTA: Salada de cenoura, xuxu e milho, bacalhau ao molho holandês, arroz com legumes, queijo camembert e creme de chocolate.

Tirei essa lista do livro Français, je vous haime. Agora, de onde vocês pensam que saiu essa lista: de um restaurante comum? Da sala de almoço dos funcionários de um museu? Do pessoal da Air France? Este é um menu de uma escola primária de Paris. No último dia do mês tem batatas fritas, só dois dias do mês não têm salada como entrada e doze dias da semana ofecerem frutas da estação como sobremesa. Como diz o autor, os franceses não precisam de ninguém para lehs dizer o que faz bem ára suas crianças. As pessoas criam o hábito de comer equilibradamente desde pequenas.

Deveríamos imitar os franceses em certos aspectos. Quer um exemplo? Os franceses adoram não trabalhar. Pela regulamentação nacional, o trabalhador deve pegar na labuta só 35 horas por semana. E ai do político que quiser aumentar. Segundo o livro que estou lendo, tudo é motivo para greve. E pelo visto Stephen Clarke está certo porque hoje a França está de greve pelos aposentados. Os restaurantes universitários, por exemplo, não vão funcionar a noite. O moço da recepção até brincou: "c'est pour travailler moins et gagner plus" (algo como, é para trabalhar menos e ganhar mais). As greves aqui são mais do que um direito dos trabalhadores, são quase institucionais.

(Pra quê trabalhar, afinal?)

De toda forma, o francês leva a sério o ditado de "eu não vivo para trabalhar, trabalho pra viver". As lojas abrem às 9h ou 10h e fecham às 19h. Isso inclui shoppings, supermercados e grande parte das lanchonetes. Os bares (e são poucos) ficam abertos até 1h da manhã. Domingo é o pior dia: as cidades parecem um cemitério. Nada abre.

Outra coisa interessante é como as pessoas se apropriam dos espaços públicos. Há pessoas às margens do Rio Sena de segunda a segunda. Elas correm, tocam instrumentos, jogam conversa fora. A noite é hora dos piqueniques e jantares a luz de velas. Acontecem até cursos de dança de salão. Essa regra de estende por todos os parques e praças. Seja em Paris, seja em Clermont.


(Crianças brincando em uma estátua de cabeça em Paris. O resto da praça estava cheio de pessoas, e era uma simples terça-feira)

(Pessoas nas margens do rio Sena. Se pelo menos o Arruda tivesse margem...)

Um comentário:

  1. Nega nega... Tenho nesse mnomento dois sentimentos por vc (além dos óbvios!):
    1) Invejinha muito boa! Queria ter a oportunidade de viver num paraíso desses (pelo menos descrito por vc parece algo do gênero);
    2)Um pouco de pena de vc... Imagina sua primeira semana de volta a BH... sem transporte público que funcione bem, pessoas berrando no seu ouvido, comida... deixa pra lá... não quero te desmotivar a voltar pra cá! hehehe
    SAUDADES!!!

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