quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nuances de uma Europa Oriental

Um livro escrito a dois tempos. O primeiro se passa em 1911, quando o desenhista Charles-Edouard Jeanneret, apenas com 23 anos, escreve um diário narrando sua viagem. O segundo se passa em 1965, quando esse mesmo jovem resolve revisar o livro para, então, publicá-lo. Nessa época, o jovem já tinha 77 anos e era conhecido como Le Corbusier, um dos mais importantes arquitetos do século XX. Assim é A viagem do oriente (Le voyage d'Orient).


A obra foi o primeiro e o último texto escrito pelo francês Le Corbusier, que morreu meses depois do lançamento. O relato do artista começa em Berlim, na Alemanha, e passa por Dresden, Praga, Viena, Budapeste, Constantinopla, Monte Athos, Atenas, Brindisi, Nápoles, Pompéia e Roma. A meta era ir até o Egito. Entretanto, quando ele e seu amigo chegam a Atenas acabam tendo que encurtar a viagem por questões de saúde.

De toda forma, o que lemos no livro é um relato apaixonado de um jovem pela arte. Mas pela arte remota, primária. Le Corbusier se encantava, por exemplo, com jarros a moda antiga, aqueles que ainda não foram contaminados pelo "gosto ocidental". Em uma passagem do livro ele narra que ao entrar em um mercado procurou algo que fosse representativo dessa estética. Não encontrava: tudo parecia igual, criado para atrair turistas, feito em série para vender mais e mais. Até que resolveu ir nos fundos de uma lojinha. Lá no fim, perdida entre as estantes, uma peça lhe chamou a atenção. Aquela sim, pela sua forma e tons, parecia trazer de volta as raízes daquela cultura.

Essas situações faziam o jovem refletir sobre o passado e o futuro. O progresso tem de ser feito em cima da supressão de certas culturas? E a partir desses questionamentos o arquiteto traz profundidade ao livro. A outra boa surpresa do livro é a noção artística de Le Corbusier. Com apenas 23 anos ele mostra já entender como ninguém de profundidade, estrutura, disposição de volumes, nuances de cores.
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E ele não escreve só sobre a arte dos tapetes, das peças artesanais, dos panos, mas também dos degradês do céu e das incríveis paisagens, narradas com precisão. Precisão até demais... e aí um problema: é tanto detalhe que a leitura se perde. Confesso que, por vezes, tive vontade de parar de ler. Foi cansativo terminar e só o fiz por teimosia. Páginas e páginas falando sobre um único pedaço de pano. A narrativa flui lentamente e, por vezes, as histórias pessoais ou os relatos das pessoas de um país são bem mais interessantes.
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Acredito que para uma pessoa da área o livro seja bem melhor. Pelo menos é o que mostra a resenha de A viagem do oriente feita pelo arquiteto Artur Rozestraten. Leia também e forme a sua opinião.

2 comentários:

  1. huuuum! interessante! já foi para minha lista de livros. será que pra uma apaixonada pela arte, mas que não é da área, será cansativo da mesma forma?

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  2. Bem, para mim isso não foi o suficiente! Heheheh. Mas vale a tentativa sim, aprendi um bocado com o livro apesar desses problemas!

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