sábado, 3 de outubro de 2009

O sonho da volta ao mundo

Até hoje, dar a volta ao mundo parece uma grande aventura, mesmo se pensarmos que é possível fazê-la em dois dias com as tecnologias atuais. Mas foi pensando em uma viagem como esta que o francês Júlio Verne escreveu A volta ao mundo em 80 dias em 1873.


O livro conta a história de um inglês impassível e imperturbável, um verdadeiro Gentleman, chamado Phileas Fogg. Milionário, Fogg vivia com seu criado e seus hábitos regulamentares, repetidos todos os dias com extrema pontualidade. Em uma conversa com amigos do clube que freqüentava diariamente, o gentleman apostou 20 mil libras que seria capaz de dar a volta ao mundo em apenas 80 dias, com afirmava um jornal inglês. Assim, partiu com seu mais novo criado, o francês Jean Passepartout para uma viagem que começa e termina em Londres, mas antes passa por Suez, Bombain, Calcutá, Hong Kong, Iocoama, São Francisco e Nova York.

Claro que essa viagem não teria nada de contemplativo. Eles não iriam visitar museus e praias, não iriam comer em famosos restaurantes nem comprar um souvenir a cada cidade. Eles iriam de um trem a outro, de um barco a outro, parando apenas para esperar o próximo meio de transporte e carimbar seus passaportes.

Desde o início a viagem é cheio de imprevistos. Dias antes da partida houve um roubo no Banco da Inglaterra e o detetive Fix está certo de que o ladrão foi Fogg. Por qual outro motivo um gentleman tão obstinadamente correto sairia de casa para dar a volta ao mundo? Fix, então, o segue por todo caminho. E o detetive é só um dos obstáculos. Entre um navio e outro eles arranjam inimigos, companheiros de viagem, tempestades e meios de transporte malucos, como trenós e elefantes.

Fato ou ficção?

O livro é tão ficcional que o excesso de imaginação surpreende. Eu me peguei fazendo perguntas do tipo: será que esse caminho, dar a volta o mundo em 80 dias, era mesmo possível em 1873? Júlio Verne imaginou tudo isso ou pesquisou intensamente até construir uma narrativa “ficcional verdadeira”?

Outra dúvida que me veio ao fim do livro: ele mesmo já foi para todos esses lugares? Pergunto isso porque muitas partes do livro pareciam reais demais para alguém que nunca esteve no local. Talvez muito do que Júlio Verne tenha escrito tenha vindo de relatos de outras pessoas ou até mesmo de clichês que construímos sobre algumas sociedades e países. Talvez seja mentira e nós, que estamos tão distantes daquela época, achamos que é tudo verdade.

Outra coisa que me chamou a atenção – e me irritou bastante em alguns momentos – é a forma como a narração foi feita. Parece Júlio Verne pensava que os leitores não estavam entendendo absolutamente nada do que ele estava dizendo. Há dois sinais claros disso. O primeiro é o título dos capítulos. Em um momento que o detetive Fix estava fora da narrativa, o suspense de sua volta ou não é suspendido pelo título “aparece novamente Fix” sem antes sabermos se ele vai voltar. Outro sinal são as diversas vezes em o autor e narrador onisciente fala diretamente com o leitor. Isso poderia ser um recurso interessante, se não fosse o tom professoral com que Júlio Verne explica a trama do livro.

Para mim, não é o melhor livro do mundo. Talvez porque, hoje, o modelo de narrativa de aventura e viagem já tenha se aprimorado. Mas entendo o entusiasmo da época com o nome de Júlio Verne e suas narrativas fantásticas.

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