terça-feira, 22 de setembro de 2009

Há 16 anos, uma volta na Pampulha por dia - Personagens (4)

Vera já chegou avisando: "Cuidado. Fica esperta com a sua bicicleta. Acabaram de tentar me assaltar". Ela me disse que eram dois, um mais gordinho, de bicicleta, e outro mais magro, a pé. Deviam ter 14 a 16 anos. O gordo foi em sua direção para tentar lhe derrubar enquanto o magro a mandava parar de pedalar e entregar a bicicleta. "Dei mole porque estava andando na pista que fica mais perto da Lagoa. E olha que eu sempre vou pelo asfalto." Vera gritava para os meninos: sai daqui em nome de Deus. Eles saíram. "A palavra de Deus tem força." E como.

Vera contava o caso enquanto a gente pedalava pela Lagoa da Pampulha. Passamos uns 30 minutos juntas, o que deve ter dado mais ou menos 6 km de distância. O mais legal é que a história do quase-assalto deu brecha para outros assuntos.

Foi assim que descobri que Vera não era uma iniciante como eu: pedalava há 16 anos. "Eu nadava e competia muito quando era mais nova. Também corria. Sempre ganhava os 100 metros. E adorava o salto em distância. Depois parei com isso tudo e resolvi andar de bicicleta." E no auge dos seus 54 anos, Vera sai do bairro Nova Suiça e vai até a Pampulha. Ônibus? Carro? Ela vai - e volta - de bicicleta. E no meio do caminho ainda dá uma volta na Lagoa... coisa pouca.

Mãe de três filhos (um "menino" de 30, outro de 27 e uma menina de 25), Vera é divorciada e pretende se casar de novo em breve, com um boliviano. O antigo marido também era boliviano. Aliás, o atual é amigo do antigo. "Nunca tinha visto esse amigo dele enquanto estávamos juntos." E olha que ela até já morou na Bolívia por alguns anos, quando seus filhos eram novos. "A Bolívia é ótima. Não é esse país sujo e feio que a gente vê na mídia por aqui. Lá é muito alegre e as pessoas são divertidas e felizes, parece com o Brasil."

Segundo ela, é o contrário da Itália, outro país que morou: "as pessoas são tristes, sem cor. Ninguém repara em ninguém. Você pode sair na rua do jeito que quiser que ninguém vai olhar para você. Eles andam sempre com a cabeça baixa".

Enquanto espera o casamento, Vera continua pedalando. E vai continuar depois que acontecer. Já foi a Brumadinho, a Itabirito e a cidades perto de BH. Nunca saiu do estado, mas sonha em fazer uma longa viagem sobre duas rodas. Comentei sobre Aurora, aquela que viajou 5 mil km de bicicleta da sua cidade, no Rio Grande do Sul, até Fortaleza. Ela encheu os olhos: "Um dia ainda faço igual."

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