terça-feira, 28 de julho de 2009

O vendedor de jóias - Personagens (1)

Sentado no Largo da Baiúca, em Diamantina (MG), o Peruano Daniel Ramos, 55 anos, se difere dos demais. Sem dúvida, ele não tem cara de brasileiro. Isso a gente vê na hora. Nem o ofício dele se parece muito com o nosso. Aqui o negócio é na improvisação: colar de cerâmica, de pena, artesanato com cabaça. Mexer com pedras e prata é diferente. Não que no Brasil o oficio com jóias não exista. Mas os colares, brincos e anéis de Daniel tinham formas diferentes. Eram mais duros, pesados, trabalhados de uma outra forma.

Em pouco tempo minha dúvida sobre sua nacionalidade se dissipou. Primeiro foi com o sotaque: um ‘não’ mais para ‘non’ e entonações diferentes. Um migrante da América do Sul. “Cheguei no Brasil em 84”, ele disse. De lá pra cá, morou 7 anos no Rio de Janeiro, 2 em São Paulo e está a 16 em Belo Horizonte. Porque a escolha da capital mineira? “Casei e fiquei por BH. Hoje tenho dois filhos”, conta. A mulher, infelizmente, já morreu.

A ele restou os filhos. Um está na 6ª serie do Ensino Fundamental “Gostar de estudar ele não gosta não. Se eu não puxo, ele fica o dia inteiro soltando pipa, jogando bola ou no vídeo-game”, diz rindo bastante. O outro tem 19 anos e prestou vestibular para Biologia no ano passado. “Passou em 4º na Uni BH. Falei com ele ‘fico muito feliz meu filho, mas não vou ter dinheiro para pagar não’. Pena que ele não passou na federal”.

Para Daniel o estudo é muito importante: é o filho mais novo de seis irmãos, nenhum deles formados. Por isso mesmo faz de tudo para incentivar os filhos. “Falo com eles que estudar é muito importante. Não deu pra gente estudar que a gente era muito pobre, minha mãe já tava mais idosa e todo mundo foi trabalhando. Ninguém me incentivou. Mas eu falo sempre para eles o tanto que estudar é importante”.

Em Diamantina ele está só de passagem. Chegou domingo, dia 19, e foi embora no sábado. Daniel não tem um lugar fixo em BH para expor suas peças, mas quando não tem para onde ir marca ponto no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. “Lá é tranquilo. Gosto de ficar por ali”. E gosta do Brasil. “Todas as mulheres são vaidosas, mas na Argentina, no Chile, as mulheres compram em loja. Aqui no Brasil elas compram muita coisa de rua. Gostam muito”. E olha que suas peças de prata com pedras preciosas são dignas de boutique. O mesmo pode de dizer do preço: um anel grande com uma pedra no meio adivinha quanto? 80 reais.

Cara de peruano, mas jeito de brasileiro. Daniel mistura sua própria simpatia a malandragem necessária a um vendedor, típica de quem já se aclimatou a essas bandas. Mas apesar do amor ao nosso país, vai com os filhos ao Peru todo ano. Sem se esquecer: “era minha mulher que adorava aquele lugar...”

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